A visão de uma paisagem livre de degradação e com alta produção levou a Fazenda Mangalô, localizada em Minas Gerais, a testar formas diferentes de produção agropecuária. Com o objetivo de aliar agrofloresta e pecuária de maneira sustentável e financeiramente viável, a Fazenda desenvolveu um sistema, chamado de pastagens agroflorestais, que possibilita a restauração de áreas de pastagem degradada junto com a melhoria da produtividade da pecuária leiteira.  

Os experimentos produzidos pela Fazenda Mangalô (saiba mais no vídeo abaixo) estão alinhados com o que mostram estudos recentes sobre as principais técnicas para restaurar pastagens degradadas: os sistemas integrados, como a integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF), são fundamentais para recuperar a degradação, combater as mudanças climáticas e gerar emprego e renda no campo.  

Mas como fazer com que o setor agropecuário seja ainda mais produtivo, resiliente e eficiente, enquanto tem um impacto mais positivo através da restauração das florestas e recuperação de áreas degradas? O aumento da escala dos sistemas Integração-Pecuária-Florestas (iLPF) é um dos caminhos mais promissores.  

O que é Integração Lavoura-Pecuária-Floresta?

Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) é uma estratégia de produção sustentável que integra pecuária, atividades agrícolas e florestais, buscando efeitos sinérgicos entre os componentes e conciliando ganhos de produtividade e geração de renda com a conservação e restauração de recursos naturais. Essa integração pode ser feita ao mesmo tempo ou de forma sucessiva, utilizando-se um tipo de cultura que é, depois, substituída pela criação de animais ou pela plantação de vegetação nativa. São três os arranjos possíveis:

  • Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (iLPF)  
  • Integração Pecuária e Floresta (iPF)  
  • Integração Lavoura e Floresta (iLF)  

Os arranjos possuem benefícios ambientais, como o bem-estar animal e a mitigação de gases de efeito estufa, econômicos, com a redução de custos com insumos e maior eficiência na utilização de recursos, e sociais, pela possibilidade de aplicação dos arranjos em propriedades rurais de todos os tamanhos e perfis, além da geração de empregos diretos e indiretos.  

O estudo Papel do Plano ABC e do Planaveg na Adaptação da Agricultura e da Pecuária às Mudanças Climáticas, produzido pelo WRI Brasil, se aprofunda nos benefícios do sistema iLPF como estratégia de adaptação e aumento da resiliência da agropecuária às mudanças climáticas. Alguns desses benefícios são:

  • Temperaturas mais amenas e aumento da umidade do ar e do solo;
  • Aumento na infiltração e na retenção de água no solo, melhora na recarga e na qualidade da água e redução dos riscos de erosão;
  • Melhora na ambiência animal pela sombra gerada por árvores e melhora na qualidade e na produtividade das pastagens;
  • Diminuição da pressão pelo desmatamento de novas áreas, pela degradação das florestas e outros ecossistemas e promoção da conservação da biodiversidade;
  • Aumento e estabilização dos rendimentos do produtor e redução da sazonalidade da mão de obra.

Sistemas integrados podem impulsionar projetos do agronegócio e trazer retorno financeiro para o produtor rural

Para incentivar a adoção dos sistemas iLPF, o WRI Brasil trabalha, por meio do  Projeto Verena, em demonstrar a viabilidade econômica dos diversos arranjos e contribuir para os grandes setores da economia, como o agronegócio, cumprirem seus compromissos socioambientais.  

Para que isso seja possível, o Projeto Verena vem trabalhando junto ao setor privado para desenhar soluções econômicas através do desenvolvimento de modelos de negócios, elaboração de planos de negócio e teses de investimento, acompanhamento e monitoramento dos impactos sociais, econômicos e ambientais.  

Uma das formas de impulsionar projetos é mostrar casos de sucesso. Há no Brasil vários exemplos de produtores rurais e empresas que estão apostando na integração da pecuária com as florestas. O projeto Pasto Vivo da Fazenda São Benedito, localizada em Mato Grosso, é um exemplo. O projeto trabalha com base em um sistema produtivo regenerativo, em que ocorre a integração de pecuária, árvores e culturas de grãos, com o objetivo de regenerar o solo e a biodiversidade. O arranjo alia práticas agrícolas dos sistemas tradicionais com adição de florestas, rotação de culturas e diversificação de espécies.  

Localizada em Minas Gerais e região, a Fazenda Inocas se destaca pela produção sustentável de óleos a partir de uma palmeira nativa chamada macaúba. A Fazenda tem como missão recuperar 30 mil hectares de áreas de pastagens degradadas em parceria com agricultores. O arranjo utiliza a macaúba intercalada com culturas temporárias ou permanentes, seguidas de pastagem.  

Conheça mais casos como a Fazenda Mangalô, Pasto Vivo e Fazenda Inocas na publicação “Reflorestamento com espécies nativas: estudo de casos, viabilidade econômica e benefícios ambientais”, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, com apoio e coordenação do WRI Brasil.  

Como impulsar os sistemas de produção integrados

O Brasil tem como meta implementar 5 milhões de hectares de sistemas agrícolas integrados, combinando lavoura, pecuária e florestas, até 2030. Para alcançar esse objetivo e gerar os benefícios dos sistemas integrados, esforços ainda são necessários. A integração Lavoura-Pecuária-Floresta pode ser feita de diferentes formas e modelos, bem como ser adaptada ao contexto de cada região e propriedade.  

Pesquisas e estudos são fundamentais para demonstrar os benefícios e potencialidades da iLPF. Além da evidência científica, promover treinamentos, capacitação e assistência técnica às inciativas que buscam implementar sistemas integrados é muito importante para estimular os agentes do setor agropecuário a usarem sistemas de produção integrados em suas realidades. Por fim, investir em sistemas iLPF na recuperação de áreas degradadas é fundamental para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas e alavancar o setor da agropecuária no Brasil e no mundo.