Workshop para imprensa promove debate sobre segurança viária com jornalistas de São Paulo
Em São Paulo, a taxa de mortalidade no trânsito é de 9,5 a cada 100 mil habitantes – índice menor do que o de muitas capitais brasileiras, mas ainda o triplo do registrado em Nova York. Com a ambição de reduzir esse número até 2020, a cidade já começou a implementar medidas de segurança, como é o caso da redução do limite de velocidade nas marginais Pinheiros e Tietê.
A fim de contextualizar a pauta da segurança viária e esclarecer dúvidas da imprensa a respeito das ações que a Prefeitura vem implementando nessa área, a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, em parceria com o WRI Brasil Cidades Sustentáveis, realizou nesta quarta-feira (23) um workshop de segurança viária para a imprensa. Jornalistas de diferentes veículos acompanharam o debate que contou com as participações de Marta Obelheiro, Coordenadora de Projetos de Saúde e Segurança Viária do WRI Cidades; Tadeu Leite, Diretor de Planejamento da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego; e Luis Eduardo Brettas, Superintendente de Desenho da Paisagem da SP Urbanismo.
Marta Obelheiro apresentou um panorama da situação brasileira, chamando atenção para o alto número de mortes registrado no país: “Conhecemos a comoção causada entre as pessoas pela queda de um avião. No Brasil, morrem 116 pessoas por dia no trânsito – exatamente o equivalente a queda de um avião por dia, sem sobreviventes. É um problema grave e que precisa ser tratado com urgência”. Conforme apontado pela especialista do WRI Cidades, os acidentes poderiam acontecer em menor quantidade se algumas medidas fossem tomadas: “A questão é: os acidentes são, em grande parte, evitáveis. Muitos são causados por falhas no desenho das vias, no planejamento da infraestrutura, na instalação do mobiliário. Estas falhas tornam as vias propícias à ocorrência de acidentes, que podem ser evitados com intervenções no espaço viário”.
Marta Obelheiro, do WRI Brasil Cidades Sustentáveis. (Foto: Mariana Gil / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
A Década de Ação para a Segurança Viária 2011-2020 é um esforço para reduzir a mortalidade do trânsito. A partir de ações em cinco pilares-chave – gestão da segurança no trânsito, vias e mobilidade mais seguras, veículos mais seguros, usuários mais seguros, atendimento ao trauma –, a Década tem como meta reduzir os acidentes fatais no trânsito em 50% em todo o mundo.
Outro exemplo é a Iniciativa Global para a Segurança Viária 2015-2019, promovida pela Bloomberg Philanthropies, que selecionou dez cidades para participar de um programa de ações para reduzir as mortes no trânsito em cidades em desenvolvimento. Uma delas é São Paulo.
Reduzir a velocidade para diminuir as mortes
Uma das principais medidas que as cidades podem tomar para diminuir o número de mortes no trânsito é a redução dos limites de velocidade. E é essa uma das frentes de ação de São Paulo, que em julho deste ano reduziu de 60km/h para 50 km/h o limite máximo permitido nas marginais Pinheiros e Tietê. “Sabíamos que a redução dos limites de velocidade era uma medida que iria trazer benefícios imediatos para a segurança no trânsito. Então, reduzimos o limite das duas avenidas que são um marco em São Paulo: as marginais. Nós não podemos mais pensar que dentro de São Paulo temos vias que são rodovias. Isso não é viável, e a cidade já abraçou essa mudança”, contou Tadeu. O resultado foi a queda de 36% nos acidentes com vítimas e diminuição de 6% da lentidão no trânsito em toda a cidade. A meta é reduzir o limite para 50 km/h em 500 quilômetros de vias arteriais, e, neste mês, novas dez vias passaram a ter velocidade reduzida.
“Quanto maior a velocidade, maior a gravidade do acidente; isso é um fato. Comprovadamente, o limite de velocidade adequado para áreas com grande circulação de pedestres é de 20 km/h a 30 km/h. E, no mundo inteiro, as cidades com os menores índices de morte no trânsito são exatamente as que já reduziram os limites de velocidade”, ressaltou Marta. No caso da capital paulista, os planos são estender o limite de 50 km/h para toda a área da cidade até o final do ano. Uma medida que vai muito além da esfera da legislação municipal: “A partir do momento em que você senta atrás de um volante, existe um risco assumido. E se você puder reduzir esse risco, dirigindo a uma velocidade menor, provavelmente pode ser a diferença entre a vida e a morte de alguém”, declarou Tadeu.
Tadeu Leite, Diretor de Planejamento da CET – Companhia de Engenharia de Tráfego. (Foto: Mariana Gil / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Ao falar em segurança viária, é necessária a compreensão de que o conceito não se restringe apenas um setor – trata-se de uma série de variáveis que, combinadas, geram melhores condições de segurança para todos os usuários do espaço das vias. Em paralelo a medidas de segurança como a fiscalização, a redução dos limites de velocidade ou a veiculação de campanhas educativas, também tem papel fundamental o desenho urbano.
Em São Paulo, os exemplos vêm dos projetos implementados no Centro Aberto. Luis Eduardo Brettas, Superintendente de Desenho da Paisagem da SP Urbanismo, falou sobre as experiências de revitalização dos largos São Francisco e Paysandu, levando em consideração o uso desses espaços pelas pessoas. Em alguns casos, apenas com pinturas na via – sem alterações no espaço de circulação dos carros – foi possível diminuir o percurso de travessia de uma rua de 18 para 9 metros, 50%, o que representa uma significativa redução dos riscos para os pedestres no momento da travessia. São mudanças simples, mas efetivas, como enfatizou Luis Eduardo: “Todas essas ações são feitas para permitir que as pessoas se sintam mais seguras e possam usufruir devidamente dos espaços da cidade. E principalmente: ao fazer mudanças simples, como a implementação de faixas em X nos cruzamentos, você deixa claro para o motorista que aquele é um lugar de pessoas”.
Luis Eduardo Brettas, Superintendente de Desenho da Paisagem da SP Urbanismo. (Foto: Mariana Gil / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
O papel da imprensa
Historicamente, mudanças que de alguma forma restringem ou impactam a circulação de veículos mostram-se inicialmente impopulares. Muitas vezes, os benefícios de medidas de segurança não são sentidos ou percebidos de imediato ou em curto prazo – reduzir significativamente o número de mortes no trânsito é um processo não de meses, mas de anos. E nesse caminho a imprensa também desempenha um papel de extrema relevância.
Cabe aos jornalistas parte da mediação no diálogo entre administrações municipais e população; a maneira como forem comunicadas mudanças implementadas por uma gestão vai nortear, em muitos casos, a percepção que as pessoas terão dessas mudanças. Por isso, é tão importante – para ambos os lados – a informação de qualidade, a apuração dos fatos relatados e o entendimento de o que representam na prática.
A segurança viária, assim, passa também pelas mãos da imprensa. Durante o workshop, os jornalistas participantes tiveram a oportunidade de aprofundar o conhecimento na área e entender melhor os impactos de medidas como a redução dos limites de velocidade. Questões referentes a legislação, projetos implementados na cidade e sobre como melhorar as condições de circulação para todos no espaço viário precisam, em suma, da responsabilidade dos profissionais na imprensa para terem impactos positivos também na percepção das pessoas.