Vencedores dos concursos Acessibilidade para Todos e SP Áreas 40 participam de jornada de aprendizados na Cidade do México
Os concursos Acessibilidade para Todos e São Paulo Áreas 40, promovidos pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis, premiaram as melhores ideias de requalificação de espaços, equipamentos e sistemas de mobilidade urbana com foco na promoção da mobilidade a pé e de bicicleta. A realização dos concursos, que ofereceu a oportunidade para engenheiros e arquitetos mostrarem suas ideias para o desenho urbano, agora proporciona a interação entre as equipes vencedoras e a troca de experiências com profissionais da área na Cidade do México.
As vencedoras Izabela Ribas Vianna de Carvalho, Flávia Pappini Horta, Jung Yun Chi, Deborah Sandes de Almeida, Chiara Alves de Oliveira e seus colegas de equipe (Eduardo Pizarro, Luis Fernando Milan, Tiago Brito da Silva, Sarah Nunes, Vanda Quecini, Maíra Sfeir e Julia Ferreira) participam nesta semana de uma missão técnica que lhes agregará novos conhecimentos técnicos, além de possibilitar uma imersão urbanística na capital mexicana.
O dia começou no Centro Histórico da Cidade do México. A região abarca alguns pontos importantes da cidade, como o Palácio Nacional do México, o Palácio de Belas Artes, o Museo del Templo Mayor e Zócalo, coração da capital mexicana e uma das maiores praças do mundo. Na Calle Regina, em meio aos transeuntes que iam e vinham, o grupo encontrou-se com Roberto Remes, Autoridade do Espaço Público na administração municipal.
Em outubro de 2008, a Rua Regina teve parte de sua extensão convertida em uma zona exclusiva para pedestres. O projeto promoveu o redesenho urbano de três quadras da rua, totalizando 550 metros que receberam infraestruturas e intervenções instaladas para garantir conforto e segurança aos pedestres. Na medida em que o grupo avançava pela rua, Remes mostrou algumas das intervenções temporárias que criaram novos espaços públicos na região. “O urbanismo tático, como chamamos esse tipo de infraestrutura, instala novos mobiliários na cidade, configurando novos espaços dos quais as pessoas podem usufruir. É uma forma de engajar a população no processo de transformação do espaço urbano, além de ajudar a construir uma vida de bairro”, explicou. A participação social é um componente que pode fazer a diferença no processo de construção de espaços públicos, mas também no planejamento das cidades como um todo. É no que acredita Jung Yun Chi, uma das arquitetas vencedoras em São Paulo: "Nas cidades, mais do que com desenhos e estruturas nós trabalhamos com gente. Uma mudança radical na maneira como as cidades são pensadas depende da união entre as pessoas e o setor público, pra que as cidades sejam construídas da forma mais humana possível".
Calle Regina (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Ao final do trecho pedestrianizado da Rua Regina, Sonia Aguilar (à esquerda), Coordenadora de Segurança Viária do WRI México, deu continuidade à visita e guiou o grupo apresentando outros dois modelos de rua encontrados no centro da Cidade do México: ruas exclusivas para a circulação dos ônibus e vias compartilhadas, onde pedestres, ciclistas e carros dividem o mesmo espaço. A especialista apontou as particularidades de cada uma, enfatizando benefícios importantes, como a redução dos carros na área central. “Por conta dessas mudanças, cada vez menos pessoas vêm ao centro de carro. O desenho da cidade precisa levar em conta as necessidades das pessoas e, se contamos com um sistema de transporte coletivo que leva as pessoas aonde precisam chegar, por exemplo, não há motivos para usar o carro”, avaliou a especialista. Um exemplo disso é a Av. Madero: via central da cidade, pedestrianizada em toda sua extensão e considerada a rua mais transitável da América Latina.
Avenida Madero, considerada a via mais transitável da América Latina (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
A mudança de perspectiva é essencial para compreender diferentes necessidades e ângulos de um mesmo desafio. Por isso, depois de caminhar pelas ruas do Centro Histórico, os participantes da Missão México tiveram a oportunidade de pedalar pelas vias centrais. Em bicicletas agrupadas para dez pessoas, o grupo encarou o trânsito da capital mexicana para viver a cidade do ponto de vista dos ciclistas. Eduardo Pizarro, um dos vencedores de São Paulo, considerou a experiência estimulante: “Iniciativas assim deviam estar em todas as grandes cidades. É uma forma de chamar a atenção das pessoas e disseminar a cultura da bicicleta”.
Prontos para o bicitour pela Cidade do México (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Viver é mais do que morar: o papel dos espaços públicos
A Cidade do México enfrenta desafios não muito distantes dos das cidades brasileiras – frota veicular ascendente, congestionamentos, vidas perdidas em acidentes de trânsito. Repensar o desenho urbano de forma que priorize as pessoas e a mobilidade ativa é uma forma de garantir que o cenário mude. Os espaços públicos, lugares de encontro e convivência, têm um papel central para essa mudança.
Viver em uma cidade vai além de apenas habitar: as pessoas precisam gostar do lugar onde vivem e ter meios de usufruir a cidade a seu redor. Nesse sentido, o sentimento de pertença e os elos de colaboração são fundamentais para intervenções urbanas que busquem o bem-estar das pessoas. Essa é a premissa da Fundação Hogares, criada em 2010 com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de famílias que vivem em empreendimentos de habitação social. “Os espaços públicos precisam ser encarados como instrumentos de mudança social. Dessa forma, mudamos a perspectiva com que vemos o desenvolvimento comunitário e passamos a considerar o papel do desenho urbano e das áreas comuns nas cidades”, iniciou Edgar Guzman, Coordenador do Programa de Regeneração Urbanda da fundação.
O encontro com o especialista, o segundo na agenda desta terça-feira, aconteceu na Alameda Central, parque que faz parte da paisagem da capital mexicana há pelo menos 400 anos. O espaço passou por uma revitalização e, em novembro de 2012, foi reinaugurado com novas árvores e vegetação, restauração das fontes e a requalificação dos diferentes ambientes, tornando-se um espaço de lazer e convivência para os moradores da capital mexicana. Revitalizações como a vivida pela Alameda Central são importantes para impedir que o espaço seja abandonado pelas pessoas. “Criar um espaço público é mais do que construir uma praça. Esses espaços precisam levar em conta as características do local onde está inserido e os desejos da população, ou se tornará uma área não utilizada”, sintetizou. E garantir que não se tornem ambientes degradados por consequência do desuso é uma forma de investir, também, em segurança: “Sabe-se que os espaços públicos diminuem a percepção de violência das pessoas. Porque, se forem espaços de qualidade e, consequentemente, utilizados pela população, criam uma movimentação intensa de pessoas na rua ao longo do dia”.
Roda de conversa sobre espaços públicos (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Um dos principais desafios tanto no contexto mexicano quanto no brasileiro, conforme apontou Edgar, é o financiamento. Diante da escassez de recursos e do ainda pequeno interesse por parte da iniciativa privada, cabe à população e as organizações lutar para destinar recursos à construção e a manutenção desses espaços, que tanto beneficiam as cidades e as pessoas. “Um espaço público é um espaço aberto. É um ambiente onde grupos distintos convivem, dividindo o mesmo espaço. Esse é o maior benefício social dessas áreas – a convivência – e não pode ser menosprezado”, encerrou.
Com uma aula de espaços públicos e desenvolvimento urbano, teve fim o primeiro dia de visitas técnicas na Cidade do México. Amanhã (21), os vencedores dos concursos Acessibilidade para Todos e São Paulo Áreas 40 encontram-se novamente, para um dia de visitas focado em outro elemento fundamental para cidades mais humanas e sustentáveis: acessibilidade.
Espaços públicos: área externa do Palácio de Belas Artes, ao lado da Alameda Central
Espaço reservado para bicicletas à frente dos carros nos cruzamentos
Zona 20 em via compartilhada na região central
Via para ônibus no Centro da Cidade do México
Fotos: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis