Transporte sustentável é aliado para salvar vidas
Quando o governo de Angola decidiu investir na infraestrutura para os automóveis viu o número de acidentes e mortes disparar. “As pessoas passaram a usar mais o carro e percebemos que não era essa a direção”, explicou Jose Van-Dunem Ministro da Saúde de Angola, painelista, nessa quinta-feira (19), último dia da 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito, em Brasília. O país africano voltou seus esforços, então, à qualificação do transporte coletivo e não motorizado, beneficiando mais pessoas. A mesma receita foi seguida por países como Luxemburgo, Finlândia, Etiópia e a cidade de São Paulo, que registram hoje vidas salvas com o incentivo a medidas de transporte sustentável.
Com mediação de Claudia Adriazola-Steil, Diretora de Saúde e Segurança Viária do WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis, participaram também do painel: Marko Sillanpää, Diretor Geral da Agência de Segurança nos Transportes da Finlândia; François Bausch, Ministro de Desenvolvimento Sustentável e Infraestrutura de Luxemburgo; Abnet Melkamu, Chefe de Gabinete do Ministério dos Transportes da Etiópia; Jilmar Tatto, Secretário de Transportes de São Paulo; e Holger Dalkmann, Diretor de Estratégia e Política Global do WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis.
Dalkamann explicou como a metodologia Avoid-Shift-Improve (Evitar-Mudar-Melhorar) pode auxiliar. Evitar viagens motorizadas; mudar para modos sustentáveis de transporte (caminhada, bicicleta e transporte coletivo); e melhorar os sistemas com tecnologia e inovação. “Precisamos pensar na segurança viária como parte de um todo maior, de forma holística no planejamento das cidades”, concluiu.
No entanto, para o método ser aplicado e gerar resultados é preciso lidar com oposições. “É necessário coragem política desde o início”, lembrou François Bausch, Ministro de Desenvolvimento Sustentável e Infraestrutura de Luxemburgo, que encarou as críticas e vai de bicicleta para o trabalho diariamente. O país implementou 700 km de ciclovias e tem o foco de seu planejamento de mobilidade no transporte não motorizado e pedestres. “Investir em infraestrutura pra carros é muito caro, já para pedestres é muito mais barato e os benefícios são enormes”, destacou.
Benefícios esses que são vistos há anos na Finlândia. A capital Helsinque conta com um dos melhores sistemas de transporte coletivo da Europa e nível de qualidade de vida da população. “Aprendemos que o excesso de velocidade dos veículos motorizados é o que mais tem afetado a segurança dos pedestres e ciclistas”, explicou Marko Sillanpää, Diretor Geral da Agência de Segurança nos Transportes da Finlândia. “Diminuir a velocidade máxima das vias para 40 ou 30 km/h é um fator determinante e que tem mostrado resultados para salvar vidas”, destacou o especialista. E é justamente essa uma das ações recentes adotadas por São Paulo para frear suas mortes no trânsito.
Jilmar Tatto explica como São Paulo está reduzindo mortes no trânsito com o transporte sustentável. (Foto: Mariana Gil / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Os desafios ainda são enormes para a maior capital da América Latina, mas a implementação de 400 km de ciclovias, 500 km de corredores exclusivos ao ônibus e a redução dos limites de velocidade já estão salvando vidas. “Os 40 km/h máximos permitidos na região central hoje já baixaram em 75% o número de mortes por acidentes na área. E na cidade toda, a medida já reduziu as fatalidades em 35%”, explicou Jilmar Tatto, Secretário de Transportes de São Paulo. “Tínhamos pelo menos quatro mortes de pedestres e ciclistas por dia na cidade. Hoje podemos afirmar que São Paulo vai cumprir a meta da ONU e vamos reduzir em 50% o número de mortes no trânsito até 2020, ou antes”, finalizou Tatto.
Ferramentas para salvar vidas:
"Saúde e Segurança Viária" é uma das áreas de atuação estratégica do WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis. Trabalhamos para melhorar a qualidade de vida nas cidades em desenvolvimento através da segurança e do desenho urbano ao focar nas necessidades de pessoas, transformamos as cidades e as opções de transporte para proteger pedestres, ciclistas e o transporte coletivo. Conheça as principais publicações voltadas para a segurança dos pedestres nas vias urbanas:
- Cities Safer by Design: guia global para auxiliar as cidades a salvar vidas no trânsito por meio da qualificação do desenho urbano e desenvolvimento urbano inteligente. A publicação traz exemplos de cidades no mundo todo, incluindo 34 elementos de desenho urbano para aumentar a segurança e qualidade de vida. Sua realização foi possível com apoio da Bloomberg Philanthropies. Acesse aqui (em inglês).
- Impactos da Redução dos Limites de Velocidade em Áreas Urbanas: desenvolvida pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis, apresenta dados sobre os impactos dos acidentes de trânsito para a sociedade e aponta como a redução da velocidade pode tornar o trânsito mais seguro. Além disso, traz estudos de caso sobre como cidades do mundo reduziram as mortes no trânsito e se beneficiaram ao diminuir os limites de velocidade em vias urbanas. Acesse aqui.
- Segurança Viária em Sistemas Prioritários para Ônibus: traz diretrizes para integrar segurança viária ao planejamento, projeto e operação de sistemas BRT, corredores e faixas de ônibus. O guia apresenta medidas de infraestrutura que diminuem o número de mortes em um sistema de ônibus, como proibição da conversão à esquerda sobre as faixas de ônibus; remoção de uma faixa de tráfego misto; existência de canteiro central; e menor distância de travessia para o pedestre. Acesse aqui.
Suécia e a Visão Zero
O projeto criado pela Suécia também inspira governos do mundo todo e, hoje, os participantes do painel "Visão Zero - Uma inovação política para todos stakeholders", promovido pelo governo sueco em Brasília. O Visão Zero foi instituído em 1997 pelo Parlamento e seu conceito é simples: "nenhuma morte é admissível”, resumiu a Ministra de Infraestrutura do país, Anna Johansson. A Suécia é um dos exemplos de gestão pública para combater os acidentes e mortes no trânsito por meio da criação de metas objetivas, liderança governamental e engajamento da comunidade.
Claudia Adriazola-Steil, do WRI, lembra de cidades mais compactas e planejadas para diminuir mortes no trânsito. (Foto: Mariana Gil / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
“Em 2015, uma criança morreu em acidente de trânsito na Suécia, enquanto 500 morrem por dia no mundo. Precisamos começar a criar um sistema de proteção às pessoas, investir em cidades compactas e vibrantes”, lembrou Claudia Adriazola-Steil, do WRI, ao lembrar que a rápida urbanização dos países em desenvolvimento também têm prejudicado a questão da segurança viária. Atualmente, 90% das 1,2 milhão de mortes em acidentes de trânsito ocorrem em países em desenvolvimento.
“Não vai ser rápido nem fácil, mas é possível. Nós demoramos 45 anos para chegar nesse ponto”, concluiu a Ministra Johansson.
Saiba mais sobre o Visão Zero.
Ministra de Infraestrutura da Suécia trouxe exemplo para Brasília. (Foto: Mariana Gil / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)