Seminário em Florianópolis discute as perspectivas da mobilidade urbana de baixo carbono
Aconteceu na noite desta segunda-feira (7), em Florianópolis, o seminário “Mudanças climáticas, cidades e desenvolvimento de baixo carbono”, realizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis com o apoio da Embaixada Britânica e em parceria com a prefeitura da cidade. Cerca de 60 pessoas estiveram presentes no evento, que segue a programação com oficina e novo painel na terça-feira (8) e tem como objetivo apresentar os resultados do projeto Urban Mobility: UK Expertise supporting PAC funded projects, discutir lições aprendidas e perspectivas de intercâmbio entre cidades brasileiras e britânicas, pensando nas ferramentas regionais disponíveis para o desenvolvimento das cidades brasileiras.
Participaram da abertura do seminário Vanessa Maria Pereira, Superintendente do Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF), representando o prefeito; Rafael Hahne, Secretário Municipal de Obras; Marcelo Martins, Secretário Municipal do Desenvolvimento; e Diogo Pires Ferreira, Coordenador de Mobilidade Urbana do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
“Estamos vivendo em Florianópolis um momento único. Nunca tivemos tantos elementos e capacidades para desenvolver tantas ações. Cabe a nós continuarmos lutando para desenvolver melhor a nossa cidade”, disse Hahne durante a fala de abertura.
“O que acho mais fantástico nesse momento é que teve início no país um processo de revisão do conceito de mobilidade. Não estamos só discutindo como melhorar o nosso transporte, mas como pensar no futuro das consequências ambientais. Em Florianópolis, 48% das viagens sao feitas em veículo motorizado individual. Muito acima da média nacional. No dia a dia do cidadão, podemos melhorar essa realidade com as boas práticas que o WRI Brasil Cidades Sustentáveis está trazendo com as ideias britânicas”, completou Vanessa.
Relação com o clima
Laura Valente de Macedo (foto), Consultora Sênior do WRI Brasil, falou sobre a relação entre mudanças climáticas, cidades e desenvolvimento de baixo carbono. “É importante pensar naquela mudança climática adicional à natural, a que vem exacerbada pela atividade do ser humano e que causa um desequilíbrio no clima da Terra”, alertou.
A especialista também comentou que as maiores fontes de emissões de gases de efeito estufa (GEE) são o consumo de combustíveis fósseis e resíduos. E um dos grandes responsáveis pelo excesso de emissões é o carro. Segundo Laura, os constantes congestionamentos e acidentes são reflexos de uma sociedade voltada para o automóvel.
Na busca por soluções, está a mitigação com foco em inovação e economia de baixo carbono, além da melhoria das práticas de gestão. As cidades têm um papel importante nesse processo porque, além de fazerem parte do problema, por serem os locais das atividades mais consumidoras de energia e emissoras de GEE, são parte da solução, pois podem investir em projetos de energias renováveis e eficiência energética, buscar a redução das emissões do setor de transportes e pensar em construções sustentáveis.
A interação também passa pela melhoria da gestão ambiental urbana, considerando políticas integradas de uso e ocupação do solo e compras públicas sustentáveis em grande escala. “Todos falam que a sustentabilidade sai caro, mas para a administração pública ela significa economia”, afirmou Laura.
Estudo do BID diz que, para cada dólar investido em adaptação, evita-se gasto o de 10 dólares na remediação de danos causados pelas mudanças climáticas. O desmatamento é o principal responsável pelas mudanças climáticas no Brasil, e, entre as consequências, estão a redução do potencial de produção alimentícia e os impactos sobre diferentes ecossistemas.
Ações com resultado
Na terceira parte do seminário, o Coordenador de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, Henrique Evers, moderou um painel entre representantes das prefeituras de Salvador e Florianópolis, que apresentaram seus planos de ação de desenvolvimento urbano e mobilidade sustentáveis, além de estratégias para a mitigação da emissão de GEE.
João Resch Leal, Diretor de Ecologia Urbana da Secretaria de Cidade Sustentável de Salvador, explicou a importância do inventário dos gases de efeito estufa realizado pela capital da Bahia, dentro do projeto da Embaixada Britânica, com o apoio do WRI Brasil, Pangea Capital e ICLEI – Local Governments for Sustainability (Governos Locais para a Sustentabilidade). Salvador faz agora parte do C40, grupo global de cidades que se reúnem para diminuir os efeitos da poluição no clima mundial. No Brasil, as outras integrantes são São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.
Para incluir a cidade no C40, foram apresentadas sete ideias: IPTU verde, inventário dos GEE, plano de combate aos GEE, criação de corredores de ônibus, plantio de 100 mil árvores, coleta seletiva, plano de resiliência e ampliação de ciclovias. “Salvador vem se preparando para reduzir ou evitar essas questões que já estão no nosso cotidiano. A maioria dos carros no trânsito da cidade é ocupada apenas pelo motorista, o que mostra que a prioridade é o conforto e não a cidade. Queremos mudar isso”, disse Leal.
O resultado final do inventário mostrou que o transporte era responsável por 74% das emissões totais de GEE, seguido por energia estacionária 18% e resíduos 8%. Na energia estacionária, 64% é fruto os edifícios residenciais. Para começar a reduzir as emissões, Salvador investiu em suas ciclovias e sistemas de bike sharing, além do programa de coleta seletiva, com aplicativo que orienta a localização dos pontos de entrega de materiais recicláveis. O plantio de mudas pela cidade também conta com a participação popular, e serve como alternativa para tentar mitigar as emissões de GEE.
Nesse sentido, Cibele Assmann Lorenzi, Coordenadora Regional do programa Iniciativa Cidades Emergentes e Sustentáveis (ICES) e arquiteta na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de Florianópolis, apresentou como o Plano de Ação Florianópolis Sustentável, que conta com 95 propostas, foi idealizado. A metodologia parte da elaboração de um diagnóstico de 121 indicadores agrupados em 23 temas e divididos em três grandes dimensões de sustentabilidade.
Com o resultado do estudo, foram priorizadas as áreas de 1) gestão do saneamento básico, 2) vulnerabilidade a desastres naturais e mudanças no clima, uso do solo e ordenamento territorial, mobilidade e transporte, 3) gestão pública moderna, gestão fiscal e conectividade, 4) eficiência energética e energias renováveis. O plano foi feito em uma região que abrange outros nove municípios no entorno e teve três estudos base: mitigação da mudança climática, vulnerabilidade e riscos naturais e crescimento urbano. Os principais riscos avaliados foram inundação fluvial, inundação costeira e deslizamentos. “Temos uma questão de vulnerabilidade bem problemática por causa da extensão da nossa orla, inclusive os problemas relacionados ao aumento do nível do mar que pode acontecer com as mudanças climáticas”, explicou Cibele. Além dos estudos, o inventário de emissões de GEE mostrou que a cidade tem o equivalente a 2,2 toneladas de CO² por habitante. O setor de transportes é responsável por 84% das emissões. O volume de área preservada da região ajuda a reduzir em 16% o total.
Nos planos de desenvolvimento, Florianópolis não tem muito espaço para crescimento. “O nosso caminho deve ser realmente focado em uma urbanização compacta, que é o que vem sendo discutido no mundo inteiro. Seguir com esse espalhamento da cidade é muito mais caro do que pensar em um cenário inteligente de ocupação urbana”, enfatizou a arquiteta.
“O modelo urbano e de consumo precisa ser mudado. Podemos mudar as cidades para melhor, implementando soluções e aprendendo com elas”, comentou Evers após as apresentações. Para finalizar, Diogo apresentou ações em Londres que servem como exemplo para os planos que estão em andamento nas cidades brasileiras. No mundo inteiro, o transporte é responsável por 25% das emissões de GEE. Nas grandes cidades brasileiras, conforme as apresentações do seminário, esse número é bem mais alto. “A vontade de ter automóvel no Brasil é o reflexo da falta de qualidade no transporte público, que não desperta a confiança necessária para que as pessoas tenham vontade de largar o carro”, disse Ferreira durante o painel.
Mobilidade urbana de baixo carbono
A programação segue na terça-feira com uma oficina para discutir as experiências em mobilidade urbana sustentável e inovação no contexto brasileiro e ainda projetar as perspectivas para mobilidade urbana de baixo carbono em Florianópolis. Enquanto este é apontado como maior e mais complexo desafio da capital catarinense, o PLAMUS (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis), o Plano de Mobilidade Urbana de Florianópolis, atualmente em complementação, e projetos como o corredor exclusivo para transporte público no anel viário central, para implantação do sistema BRT (Bus Rapid Transit), estão em curso para melhorar a mobilidade e a qualidade de vida das pessoas.
Será apresentado, ainda, o projeto do anel viário, a fim de receber contribuições dos participantes da oficina. O projeto conta com 17 quilômetros de extensão de faixas exclusivas ou preferenciais para ônibus e fará todo o contorno na região central, passando pelo Terminal de Integração do Centro (TICEN), Beira-mar Norte, Trindade, Pantanal, Saco dos Limões, José Mendes e Prainha.
Confira aqui a programação completa do evento.
(Fotos: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)