Seminário em Campinas aborda desafios da mobilidade urbana
A organização internacional World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), representada nacionalmente pelo CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável), realizou, nessa quarta-feira (27) em Campinas (SP), o seminário “Os Desafios da Mobilidade Urbana”. O encontro marcou o encerramento do Projeto de Mobilidade Sustentável 2.0 (SMP 2.0), aplicado no município e realizado em parceria entre WBCSD e Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec). A cidade é a única das Américas a fazer parte do estudo, que também inclui Lisboa (Portugal), Hamburgo (Alemanha), Chengdu (China), Bangcoc (Tailândia) e Indore (Índia).
Com a coordenação do CEBDS, Emdec e Prefeitura de Campinas, e em parceria com o WRI Brasil Cidades Sustentáveis, o seminário abordou os principais pontos que influenciam um plano de mobilidade urbana sustentável. De acordo com Stephan Herbst, co-presidente do projeto WBCSD, tempo de deslocamento, conforto e lazer são alguns dos indicadores de prioridades nos estudos. "Nosso plano não é procurar um tipo específico de solução, mas entender as necessidades e exigências das cidades", disse.
Mónica Guerra Rocha, assessora da Gerência Institucional do CEBDS defendeu a necessidade de incrementar a qualidade dos sistemas de transporte público ofertados: “precisamos hierarquizar e priorizar os meios de transporte, incentivar modais mais sustentáveis e ter o olhar do coletivo, que deve ser maior do que o olhar sobre o conforto de cada um”.
O Plano Viário de Campinas, segundo o secretário de Transportes e presidente da Emdec, Carlos José Barreiro, está sendo projetado para os próximos 25 anos. Barreiro apresentou o Rapidão, sistema de BRT que será implementado na cidade, eenfatizou: “um problema de mobilidade urbana não tem apenas uma solução. Uma solução que parece boa, mas que foi escolhida errado, pode prejudicar as outras que vêm a frente. Estamos desenvolvendo planos que nos permitem ter um olhar para o futuro".
O prefeito Jonas Donizette celebrou a parceria como WBCSD e a chance de melhorar a qualidade do transporte coletivo de Campinas a partir da perspectiva do usuário. “Quem lida com o setor público sabe que tão importante quanto implementar a ideia é pensar e discutir com a população para que ela possa ser positiva para todos. Foram muitas pessoas envolvidas para chegar no que estamos chegando agora. Cidades importantes estão discutindo esse assunto e Campinas agora também é uma delas", destacou.
Mudança de paradigma
Para a construção de novos projetos no setor do transporte, é necessária uma mudança cultural. Durante o seminário, o diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, Luis Antonio Lindau, apresentou o conceito de Desenvolvimento Urbano Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS).
Foto: Aloha Boeck, WRI Brasil Cidades Sustentáveis
“Estamos falando sobre uma mudança de paradigma. Se quanto mais vias se têm, mais carros se têm; quanto mais vias se tiram, mais carros se tiram ", apontou. O especialista defendeu a otimização do espaço público com a mudança nos modais e melhoria no sistema de transporte coletivo. “A pior destinação possível para as vias é entregar para o automóvel, mas já sabemos disso. O que precisamos é ver como avançar para mudar essa realidade. As mudanças estão acontecendo em várias cidades, mas as boas práticas devem ser expandidas para aumentar o impacto no desenvolvimento”, concluiu.
No mesmo sentido, a jornalista Natália Garcia, do Cidades para Pessoas, convidou a refletir sobre a relação das pessoas com os espaços públicos, e como cada um vive a sua cidade. Para ela, as pessoas se movem em busca de oportunidades: “se fôssemos resumir a equação da mobilidade urbana, seria isso: sair de casa, pegar um caminho e ir até uma oportunidade. O problema é que segmentamos essas partes da cidade e é difícil de pensar nelas como um sistema interligado”.
De acordo com a jornalista, a prefeitura de Copenhagen, conhecida como a cidade das bicicletas, colocou em uma equação as variáveis das contas públicas, como gastos com saúde e manutenção da infraestrutura, e concluiu que, a cada quilômetro pedalado, a cidade ganha o equivalente a R$ 0,70, enquanto pede R$ 0,30 a cada quilômetro percorrido de carro.
Daniely Votto, gerente de Governança Urbana do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, apontou a necessidade de um verdadeiro engajamento social para que os projetos sejam efetivos: “a importância da participação social é descentralizar as decisões. Ninguém pede consenso em audiências públicas, mas é possível chegar a acordos. Se feito com métodos, pensando junto desde o princípio do projeto de mobilidade, vai ser rico e benéfico para todos”, destacou.
Boas práticas
Além do plano em construção em Campinas, o seminário também contou com a participação de Ramon Victor Cesar, presidente da BHTrans, que apresentou o Plano de Mobilidade de Belo Horizonte (PlanMob-BH) e o MOVE, sistema BRT da cidade, que transporta 500 mil passageiros por dia. Atualmente, são 23 quilômetros de corredores exclusivos com duas faixas de tráfego e 40 pontos de transferência. O sistema foi desenvolvido ao longo de quatro anos, da concepção à inauguração, com apoio técnico do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
Buenos Aires, na Argentina, foi outro caso de sucesso da América Latina apresentado. Segundo Paula Bisiau, diretora de Mobilidade Sustentável do Departamento de Transportes da cidade, Buenos Aires é privilegiada, pois tem ruas largas, com áreas agradáveis e muitas árvores, mas ainda há muitos desafios para enfrentar no setor de transportes, principalmente na integração com a região metropolitana. São cerca de 8 milhões de viagens diárias, sendo a maior parte realizada em transporte público (trem, ônibus, Metrobus ou metrô). Além disso, 2,95 milhões de pessoas ingressam na cidade todos os dias, sendo que 45% fazem o trajeto em transporte motorizado individual.
Nos últimos oito anos, período em que Paula trabalha no departamento, foram adotadas estratégias como o Metrobus na Av. 9 de Julio - uma das avenidas mais largas do mundo -, com extensão de 3 quilômetros, que atende 255 mil passageiros diariamente. Com isso, houve uma redução de até 50% no tempo de viagem e há mais segurança com o investimento na iluminação das estações e na presença policial. Ao mesmo tempo, foram implementados 155 quilômetros de ciclovias em cinco anos.
“A pergunta que nos fazíamos era: em que cidade queremos viver? E queremos viver em cidades para pessoas. Não são soluções mágicas, todos temos que trabalhar e procurar uma forma juntos, pensando na nossa cidade, na nossa identidade e nas nossas pessoas”, concluiu.