Seminário em Belo Horizonte destaca o papel das cidades na construção de um futuro sustentável
Belo Horizonte, referência nacional na tomada de ação a favor da mobilidade urbana e da proteção do meio ambiente, sedia o Seminário Internacional Mobilidade Urbana e Meio Ambiente, organizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis com o apoio da Embaixada Britânica. O evento foi organizado com o objetivo de compartilhar experiências de projetos urbanos acessíveis e sustentáveis identificar oportunidades para replicar boas práticas internacionais na capital mineira.
Junto a uma série de especialistas nacionais e internacionais, participaram da abertura do evento Luis Antonio Lindau, Diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis; Thomas Nemes, Cônsul Geral do Reino Unido em Belo Horizonte; Ramon Victor Cesar, Presidente da BHTrans (Empresa de Trânsito de Belo Horizonte); Célio Bouzada, Diretor de Planejamento da BHTrans; Délio Malheiros, Vice-Prefeito e Secretário Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte; e o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda.
O prefeito da capital mineira destacou a avançada posição da cidade no Compacto de Prefeitos, compromisso global que estabelece metas para as cidades mitigarem as emissões de gases de efeito estufa. No Brasil, apenas Belo Horizonte e Rio de Janeiro completaram as quatro etapas do projeto. Assinaram o acordo, 36 prefeitos brasileiros e um total de 400 prefeitos no mundo. “Hoje, as cidades vêm firmando seu papel como atores-chave na formulação de estratégias no desenvolvimento sustentável”, exaltou o prefeito. Para ele, o Compact of Mayors permite que as cidades compartilhem experiências, objetivos e debatam os impactos das mudanças vividas mundialmente. Lacerda esteve presente e participou de maneira ativa da COP 21, a Conferência do Clima, em Paris, em dezembro do ano passado. Segundo ele, o Brasil levou uma expressiva contribuição ao evento. “Felizmente, o acordo foi assinado e o que gostaria de destacar de positivo da COP 21 é a capacidade de mobilização das redes de cidades”, afirmou o prefeito.
(Foto: Sergio Trentini/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
A meta de Belo Horizonte é reduzir de 7,21 milhões para 5,76 milhões as toneladas de emissões de gás carbônico até 2030. O Plano de Resiliência, no qual a cidade trabalha atualmente, envolve ações integradas em energia, saneamento e mobilidade. Hoje, 53% das emissões da cidade são originadas pelo setor de transportes. Lindau considera que uma questão-chave nesse quesito, além de discutir como introduzir veículos limpos, é o desenvolvimento de novas opções: “É importante termos um transporte limpo nas cidades, porém, ainda que todo o transporte seja limpo, não queremos um congestionamento limpo. Precisamos de meios alternativos de transporte.”
Cidades do mundo todo enfrentam os mesmos desafios em relação ao meio ambiente e à mobilidade. Na visão de Nemes, a realização dos Jogos Olímpicos e dos Jogos Paralímpicos no Brasil é uma oportunidade de atentar para as necessidades mais urgentes: “Este é o momento de dar maior atenção à acessibilidade, já que tantos atletas com condições especiais estarão enfrentando problemas de locomoção”. Ao todo, 4.350 atletas de 174 países participarão dos Jogos Paralímpicos no Rio em 11 dias de disputas entre os dias 7 e 18 de setembro. “Estamos investindo 5 milhões de libras no Brasil e pretendemos nos envolver cada vez mais no desenvolvimento sustentável no país”, destacou Nemes.
Painelistas na abertura do Seminário (Foto: Sergio Trentini/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Share the Road
Dando sequência à programação do Seminário, Carly Koinange, representante do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), apresentou o programa “Share the Road”, liderado por ela em Nairobi. Desenvolvido desde 2008 em parceria com a Fia Foundation para Automóvel e Sociedade, o projeto visa unir estratégias de meio ambiente e segurança no contexto do transporte urbano.
O principal objetivo, como explica Carly, é estimular políticas governamentais e doadores para investimentos sistemáticos em infraestrutura de ruas para locais de caminhada e ciclovias, ligados a sistemas de transporte público. “As cidades não estão trabalhando como deveriam. Hoje, só se pensa em construir estradas”, afirmou Carly. De acordo com ela, pesquisas mostram que, em Nairobi, a população não utiliza outros meios de transporte, como a bicicleta, por falta de segurança: “Se houvesse uma estrutura segura, eles trocariam o carro pela bicicleta. Precisamos parar de construir para os carros e começar a construir para as pessoas”.
Carly Koinange (Foto: Sergio Trentini/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Sociedades ao redor do mundo ainda priorizam o uso do carro e negligenciam as necessidades da maioria dos usuários das ruas – pedestres e ciclistas. Conforme dados apresentados pela representante do UNEP, até 2020, acidentes de trânsito devem matar ou incapacitar mais pessoas do que guerras, tuberculose e o vírus HIV combinados. “Não estamos sugerindo a destruição dos carros, apenas precisamos trabalhar na combinação dos modais. Carros devem ser usados para longas viagens, mas para ir ao trabalho, ao mercado, deve-se usar um meio alternativo e não poluente”, analisou a especialista, que também elogiou o trabalho da capital mineira: “Belo Horizonte está fazendo um trabalho fantástico. E precisa seguir evoluindo. Muitos conflitos ocorrerão, mas o importante é pensar no futuro. Como você quer ver sua cidade daqui a 20 anos? Como estará o ar até lá?”
Diferentes cenários
Antes de finalizar sua participação, Carly apresentou parte dos trabalhos desenvolvidos pelo UNEP ao redor do mundo, especialmente no Quênia. O país africano ainda enfrenta muitos desafios, como a falta de incentivo político, a falta de doadores na área, a complexidade institucional e até uma atitude negativa para com pedestres e ciclistas. “Por lá, o orçamento destinado aos pedestres é 0%”, afirmou.
Britânica, Carly também falou sobre os investimentos em mobilidade e sustentabilidade em Londres. Ainda que, em comparação com outros países europeus, a capital inglesa esteja atrasada nas ações contra as emissões de gases de efeito estufa, a cidade vem promovendo ações importantes. Enxergando na bicicleta uma das soluções para o futuro, Londres tem como objetivo aumentar em 400% os investimentos em transporte com bicicleta ainda este ano. O prefeito da cidade, Boris Johnson, pretende investir 913 milhões de libras em 10 anos em infraestrutura para bicicletas. “Boris pedala todos os dias. O objetivo dele é tornar as bicicletas um símbolo da cidade, assim como os ônibus vermelhos e os táxis pretos”, contou Carly. Entre 2002 e 2012, ocorreu um aumento de 63,2% na frota de bicicletas em Londres, com investimentos de 80 milhões de libras por ano.
A bicicleta também é uma das apostas de Belo Horizonte, que nos últimos anos trabalhou para expandir sua rede cicloviária. Estimular o uso de modos não motorizados na cidade é uma das prioridades da Prefeitura para reduzir as emissões de gases poluentes e melhorar o trânsito. “Não há como falar em meio ambiente se não houver debate sobre a questão da mobilidade”, afirmou Délio Malheiros. Entre 2010 e 2015, foram implantados 51 quilômetros de ciclovia, aumentando a malha de 19 quilômetros para 70,4 quilômetros. “O mundo está mudando. Para as cidades é uma questão de escolher se querem ficar apenas observando ou querem fazer parte dessa transformação”, finalizou Carly.