Porque as cidades são a solução às mudanças climáticas
2015 é um ano de extrema importância para a agenda do desenvolvimento sustentável global no qual as cidades irão desempenhar um papel central. As decisões globais relevantes ao longo dos próximos 12 meses vão oferecer oportunidades para desbloquear o potencial das cidades e melhorar a qualidade de vida de bilhões de pessoas em todo o mundo.
O diretor do WRI Ross Center for Sustainable Cities, Ani Dasgupta, explica como as cidades podem desempenhar um papel-chave para combater as mudanças climáticas, incrementar a prosperidade econômica e catalisar a urbanização inteligente. Acompanhe:
Por que as cidades são fundamentais para agir pelo desenvolvimento sustentável e o combate às mudanças climáticas?
Comumente falamos sobre o quanto as cidades contribuem para as mudanças climáticas, sendo responsável por 70% das emissões de gases de efeito estufa relacionadas à energia, por exemplo. Mas isso faz sombra ao fato de que as cidades são também incubadoras para as soluções de combate às mudanças climáticas. A esmagadora maioria das ações mais ambiciosas e inovadoras para reduzir emissões e melhorar a qualidade de vida está acontecendo no nível municipal. O relatório Climate Action in Megacities 2.0 do C40 Cities Climate Leadership Group traz vários exemplos dessas ações.
Isso é possível porque as cidades são o lar de instituições que dão origem a colaboração produtiva. As ferramentas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa estão dadas, mas tonar essas soluções em realidade exige a cooperação entre os setores e as partes interessadas. Por exemplo, o BRT (Bus Rapid Transit). É uma forma relativamente simples de reduzir as emissões e criar uma série de outros benefícios para os moradores da cidade, mas requer uma forte colaboração. Há a questão técnica de como integrar o sistema com a infraestrutura existente, a questão financeira de como levantar financiamento, a questão econômica de como se envolver com as empresas locais e o grande desafio comportamental de mudar a enraizada preferência cultural pela posse do carro privado. Nenhuma das soluções para as mudanças climáticas vêm de um único ator, e é por isso que as cidades são locais poderosos para criar coalizões e enfrentar este desafio.
Quais ferramentas e recursos os líderes das cidades precisam para tornar o desenvolvimento urbano sustentável uma realidade?
O conhecimento mais importante que os líderes das cidades precisam não é o que fazer; é como fazê-lo. Os líderes da cidade precisam entender como construir o apoio entre os cidadãos e os tomadores de decisão que trabalham em conjunto por um objetivo comum. Ajudar as cidades neste processo precisa ser uma prioridade de organizações como o WRI Ross Center for Sustainable Cities. Nosso papel é criar ferramentas que forneçam evidências claras para ajudar os líderes a mobilizar os cidadãos e os tomadores de decisão.
As cidades também precisam de métricas comuns que as ajudem a medir o progresso e a comunicar os resultados. O World Resources Institute - juntamente com ICLEI e C40 - lançou recentemente o protocolo Community-Scale Greenhouse Gas Emissions Inventories (GPC), o primeiro padrão global para medir as emissões de cidades. Padrões de mensuração como o GPC e outras ferramentas para informar sobre as políticas e a boa governança urbana podem promover a troca de conhecimento e a colaboração entre as cidades. Como uma comunidade, ainda precisamos fazer mais para desenvolver ferramentas que ajudem os líderes a conectar políticas técnicas com impacto real no bem-estar das pessoas.
O tema do Transforming Transportation 2015 é “cidades inteligentes e prosperidade para todos”. Para você, o que uma cidade precisa para ser considerada inteligente?
O termo "cidade inteligente" se tornou um chavão, mas ainda não há clareza em torno do que significa ser uma cidade verdadeiramente inteligente. Muitas vezes, as pessoas pensam que uma cidade inteligente envolve apenas tecnologia. Uma cidade inteligente não é uma cidade automatizada. Ser uma cidade inteligente significa ter líderes, empresas, cidadãos tomando decisões inteligentes e informadas.
A tecnologia pode ser uma parte importante de uma cidade inteligente. Ela pode fornecer informações sobre as necessidades dos cidadãos e ajudar a melhorar o transporte, o uso de energia, o design urbano e muito mais. Mas a tecnologia só é útil na medida em que dá confiança às cidades para a tomada de decisão baseada em evidências e dá aos cidadãos os recursos para responsabilizar os seus líderes. Sem boa governação e as prioridades certas, uma cidade não pode ser inteligente.
Se você pudesse pedir aos participantes do evento para tomar uma atitude para a construção de cidades melhor, qual seria?
Há uma construção de consensos em torno do conceito de cidades sustentáveis, quais sejam: conectadas, compactas, e coordenadas. Cidades conectadas contam com soluções de mobilidade sustentável e priorizam as necessidades das pessoas e não de automóveis. Crescimento urbano compacto significa que as cidades não se percam no espraiamento e desenvolvimento de infraestrutura ineficiente. Por último, atingir um crescimento conectado e compacto exige governança coordenada onde os líderes da cidade colaboram e são responsabilizados para atingir os objetivos. Seguir este roteiro para o desenvolvimento sustentável é a melhor maneira para os líderes encontrarem soluções de baixo carbono que moldem cidades mais inclusivas e prósperas.
Apesar de sabermos que isso seja verdade em nível internacional, adaptar estas soluções para melhor atender às necessidades locais continua sendo um desafio central. Não são problemas exatamente iguais e ser conectada, compacta e coordenada significa algo diferente em Pequim e em Bangalore. Para encontrar o equilíbrio entre as melhores práticas globais e de contexto local, temos de nos concentrar em como os líderes de cidades podem tornar soluções sustentáveis uma realidade não apenas em uma cidade, mas em todo o mundo. Precisamos ajudar as cidades a encontrar soluções específicas, que possam ajudá-las a ser conectadas, compactas, e coordenadas.
Originalmente publicado por TheCityFix.