A palavra de ordem para qualificar a mobilidade urbana: integração
Investir em infraestruturas que estimulem a mobilidade ativa é investir na transformação das cidades. E a palavra de ordem para isso é “integração”. Construir redes de transporte integradas, nas quais todos os diferentes modos de transporte estejam conectados e tornem os deslocamentos mais eficientes, é a mudança essencial de que as cidades e as pessoas precisam hoje.
Essa foi a conclusão a que chegaram os participantes da mesa “Como transformar as cidades a partir do transporte a pé e de bicicleta”, que deu continuidade à programação da sala Desafios da Mobilidade Urbana na manhã de hoje (27), no IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável (EMDS). Sob a moderação de Paula Santos, coordenadora de mobilidade urbana e acessibilidade do WRI Brasil, e comentários de Walter de Simoni, do Instituto Clima e Sociedade (ICS), o debate contou com as contribuições de Clarisse Linke, diretora executiva do ITDP Brasil; João Paulo Amaral, representante do Bike Anjo e da União de Ciclistas do Brasil (UCB); e Fábio Ney Damasceno, Secretário de Mobilidade do Distrito Federal.
Participantes apontaram a necessidade de investir em transporte ativo (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil)
Uma cidade equitativa é uma cidade que permite a todos acessarem, com segurança e eficiência, os serviços e oportunidades que oferece. Esse acesso depende diretamente das condições de mobilidade e estas, por sua vez, estão relacionadas ao desenho urbano, ao modelo de planejamento e à distribuição do espaço urbano. Quando uma cidade é desenhada para comportar de forma adequada os deslocamentos a pé e de bicicleta, automaticamente o acesso à cidade melhora. “A discussão sobre o transporte ativo é a discussão sobre os valores que queremos que a cidade tenha – acessibilidade, equidade, segurança. As cidades precisam ser lugares onde as pessoas possam ser o que quiserem ser, onde elas possam chegar aonde quiserem chegar”, avaliou Walter.
A não priorização dos modos ativos esvazia as ruas, uma vez que a falta de condições adequadas para caminhar ou pedalar afasta as pessoas dessas opções de transporte. “No geral, não confiamos nos espaços públicos, temos medo da rua. As cidades foram – e em alguma medida continuam sendo – feitas para serem vistas através da janela de um carro a 70 km/h, e isso obviamente torna a cidade menos segura”, comentou Clarice (à esquerda). Calçadas largas e em boas condições, ciclovias e ciclofaixas – principais infraestruturas para o transporte ativo – são um estímulo para que as pessoas optem por utilizar esses modos e, consequentemente, estejam presentes na rua. Mais pessoas nas ruas, mais segurança para a cidade. “Ir a pé ou de bicicleta precisa ser uma decisão óbvia e fácil”, acrescentou a especialista.
Não basta, contudo, implementar essas infraestruturas de forma isolada. A integração do transporte ativo com os demais modos desempenha um papel central no que tange ao estímulo à mobilidade sustentável. Um modo pode contribuir para o sucesso dos demais e vice-versa, como explicou João Paulo: “A presença de bicicletários ou estações de bicicletas compartilhadas no entorno das estações de transporte coletivo, por exemplo, contribui significativamente para aumentar o número de passageiros”.
Damasceno, que apresentou um panorama sobre a mobilidade em Brasília e os projetos que a cidade vem desenvolvendo para qualificar o transporte ativo, considera a integração a chave para solucionar os desafios de mobilidade no Brasil: “O problema não é usar ou não o carro, o ônibus, a bicicleta. O problema é a falta de integração entre os sistemas. Uma rede integrada conectando os vários modos de transporte é o segredo para qualificar a mobilidade nas cidades brasileiras”.
A mobilidade urbana é uma rede. Investir em transporte ativo é uma forma de transformar o ambiente das cidades, mas, para isso, é preciso que esse investimento contemple a integração entre os diferentes modos. “Precisamos tirar as pessoas dos carros”, disse Clarice. Tirar as pessoas dos carros e colocá-las nas ruas, que precisam estar aptas a recebê-las considerando as necessidades e diferenças entre todos que precisam se deslocar – crianças, mulheres, idosos, pessoas cegas, surdas ou com mobilidade reduzida.
As atividades do WRI Brasil no EMDS são apoiadas por: CIFF (Children's Investment Fund Foundation), Stephen M. Ross Philanthropies, ICS (Instituto Clima e Sociedade), Fedex Express, Arconic Foundation, BMZ (Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha), GIZ, Citi Foundation, Centro de Excelência ALC-BRT e UNEP.