Os 15 países com mais pessoas expostas às inundações causadas pelos rios
Este post foi escrito por Tianyi Luo, Andrew Maddocks, Charles Iceland, Hessel Winsemius e Philip Ward e originalmente publicado no WRI Insights. Hessel é pesquisador da Deltares. Philip é pesquisador sênior do Instituto para Estudos Ambientais da VU University Amsterdam.
Em setembro de 2014, Hamberton Nongtdu acordou com o som de um alto falante de uma mesquita próxima que avisada: uma inundação estava a caminho.
Nongtdu, moradora da região de Kashmir, na Índia, mal teve tempo de subir ao terceiro andar de sua casa antes de a água invadir os portões e inundar o primeiro e o segundo andares. Nongtdu e a família sobreviveram, mas as chuvas de monção de setembro do ano passado, incomunmente fortes, tiraram mais de 500 vidas na Índia e no Paquistão. Foi a catástrofe mais cara do ano.
As enchentes do último mês de setembro podem ter sido as mais dramáticas na região, mas essa é uma ameaça que vai muito além do sudeste asiático. Mais pessoas são afetadas por inundações do que por qualquer outro tipo de desastres naturais. Novas análises mostram que aproximadamente 21 milhões de pessoas no mundo são atingidas por enchentes de rios todos os anos. Esse número pode chegar a 54 milhões em 2030 em decorrência das mudanças climáticas e do desenvolvimento socioeconômico.
Quantificando e visualizando as cheias de rios ao redor do mundo
O Aqueduct Global Flood Analyzer, uma nova ferramenta online, quantifica e gera visualizações dos riscos globais de inundações, tanto atuais quanto estimados. O WRI codesenvolveu a ferramenta ao lado de quarto organizações de pesquisa holandesas: Deltares, Insitituto de Estudos Ambientais da VU University Amsterdam, Utrecht University e PBL - Agência de Avaliação Ambiental dos Países Baixos, apoiada pelo Ministério de Infraestrutura e Meio Ambiente.
O Analyzer também estima a parcela do PIB que pode ser afetada, a população atingida e os danos urbanos causados pelas cheias de rios para cada estado, país e grandes bacias hidrográficas no mundo.
Foram classificados 164 países de acordo com o número de pessoas afetadas por enchentes causadas pelas cheias dos rios, o que mostrou que os 15 primeiros países nessa lista abrigam 80% do total da população afetada anualmente em todo o mundo. Esses países estão todos entre os considerados menos desenvolvidos ou em desenvolvimento. Aproximadamente 167 mil pessoas são afetadas todos os nos Estados Unidos, país que ocupa a posição mais alta entre os desenvolvidos.
Inundações afetam o PIB
O WRI analisou quais países têm a maior porcentagem do PIB afetada por ano pelas enchentes de rios, e todos entre os 20 primeiros são considerados os menos desenvolvidos ou em desenvolvimento. A Índia tem a maior parcela do PIB exposta aos efeitos das inundações: pelo menos US$ 14,3 bilhões. Bangladesh, em segundo lugar, é afetado em US$ 5,4 milhões.
Nós constatamos que as potenciais consequências econômicas dos estragos causados pelas inundações são maiores quanto maior for a parcela do PIB afetada. China e Brasil, por exemplo, ocupariam respectivamente a primeira e a quinta posições em um ranking considerando a quantidade bruta de PIB afetada. No entanto, o rendimento nacional desses países é tão amplo que eles caem na lista considerando o percentual.
Exposição do PIB em 2030: a disparidade entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento
Nossa análise mostra uma tendência clara no mundo. Em países de renda baixa ou média, espera-se que o desenvolvimento socioeconômico acabe por concentrar mais pessoas, construções e infraestrutura nas áreas vulneráveis. Assim, acredita-se que esses países tenham uma parcela maior de seus PIBSs exposta aos riscos de inundações em 2030.
A Índia, por exemplo, é o país com a maior probabilidade de ver mudanças na exposição de seu PIB aos riscos de enchentes do que qualquer outro. A partir de um cenário previsto para o meio do caminho entre 2015 e 2030, o Analyzer estima que os atuais US$ 14 bilhões afetados anualmente por esses fenômenos naturais naquele países possam atingir a marca de até US$ 154 bilhões em 2030. E aproximadamente 60% desse aumento poderia ser causado pelo desenvolvimento socioeconômico.
Entre os países desenvolvidos, Austrália, Croácia, Finlândia, Portugal e Israel devem ver um aumento na parcela de seus PIBs exposta aos riscos de inundação em 2030, em decorrência principalmente de mudanças socioeconômicas. Por outro lado, o aumento da parcela exposta dos PIBs de países como Eslovênia, Bélgica, Irlanda, Suíça e Países Baixos deve se dar devido às mudanças no clima.
As mudanças climáticas sujeitarão mais pessoas a inundações
Em comparação ao desenvolvimento socioeconômico, as mudanças no clima são um um fator ainda maior no que diz respeito à exposição da população a enchentes. Isso porque tanto a frequência quanto a intensidade das inundações causadas pelas cheias dos rios devem aumentar em decorrência das mudanças climáticas em muitas áreas do mundo. Esse fenômeno iria expandir as áreas propensas a enchentes, fazendo com que estas ocorressem com mais frequência nesses locais.
As mudanças no clima afetam as populações de áreas de risco de países desenvolvidos e em desenvolvimento da mesma maneira – não há um padrão de distinção claro. Na Irlanda, por exemplo, duas mil pessoas enfrentam o risco de inundações atualmente. Até 2030, mais 48,5 mil pessoas devem ser somadas a esse número, e 87% desse aumento pode se dar devido às mudanças climáticas. Em relação aos países em desenvolvimento, 715 mil pessoas encontram-se em risco hoje. Em 2030, as inundações decorrentes das cheias nos rios poderá afetar até 2 milhões de pessoas a mais, sendo as mudanças no clima a causa para 70% desse aumento.
Uma ferramenta para ação e conscientização
Os riscos podem ser ascendentes, mas os tomadores de decisão dos setores público e privado podem fazer mais para prevenir estragos catastróficos antes que eles aconteçam.
O acesso, por parte desses atores, aos dados do Analyser pode imediatamente aumentar sua conscientização a respeito dos riscos atuais e futuros. Munidos com a informação certa, esses tomadores decisão podem priorizar a redução dos riscos, bem como projetos de adaptação ao clima, e implementar opções mais viáveis e eficientes (veja abaixo).
Serão décadas e bilhões de dólares gastos para proteger as dezenas de milhões de pessoas em risco de sofrer com inundações de rios e tempestades. No entanto, começar agora e seguir a direção apontada por ferramentas como o Global Flood Analyzer pode ajudar os tomadores de decisão em organizações internacionais, companhias de resseguro e multinacionais, entre muitos outros, a avançar na construção de sistemas de proteção e infraestrutura de adaptação.
Para saber mais sobre o ranking e a metodologia por trás dessa análise, acesse nosso conjunto de dados ou teste a ferramenta.
Quem pode usar o Flood Analyzer?
- Organizações internacionais de desenvolvimento e financiamento como o Banco Mundial podem priorizar investimentos em estratégias visando à redução de riscos de desastres naturais.
- Organizações de monitoramento de riscos de desastres naturais como o Escritório das Nações Unidas para a Redução de Riscos de Desastres podem avaliar as condições de risco e monitorar o progresso das atividades de redução.
- Companhias de (re)seguro podem rapidamente acessar os riscos atuais e projetados e explicar a importância do seguro para clientes em potencial.
- Companhias multinacionais podem avaliar os riscos para suas instalações de produção globais e cadeias de abastecimento e priorizar determinados locais para análises posteriores e ações de mitigação de risco.