O diálogo para o financiamento de cidades sustentáveis
Existe uma lacuna entre a crescente demanda por serviços urbanos sustentáveis e a capacidade das cidades de desenvolver e financiar soluções inovadoras que contemplem a sustentabilidade. A partir dessa premissa, o Fórum Financiamento de Cidades Sustentáveis oferece um canal para explorar opções de investimento na escala de que as cidades precisam para implementar ações climáticas. Organizado pelo C40, em parceria com a Citi Foundation e o WRI Ross Center for Sustainable Cities, o evento é uma oportunidade para engajar cidades, prestadores de serviços e financiadores em uma narrativa comum para o financiamento de projetos urbanos inovadores e sustentáveis.
Entre hoje e quinta-feira (7), tomadores de decisão de instituições financeiras, representantes do setor privado e lideranças municipais estarão reunidos no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, para debater oportunidades e desafios de financiamento e construir uma ponte entre a infraestrutura urbana atual e o que as cidades precisam para acompanhar o crescimento urbano projetado. Nesse contexto, o financiamento de cidades prósperas e sustentáveis aparece como questão-chave para definir como será o futuro de nossos centros urbanos.
Mais de cem pessoas comparaceram ao Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, para acompanhar o Fórum (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
“Adaptar novas e diferentes soluções à realidade das cidades é um dos propósitos desse debate. Como tornar as cidades mais prósperas e sustentáveis ao mesmo tempo – encontrar esse equilíbrio é o que nos levará às cidades do futuro”, apontou James Alexander, Chefe de Finanças e Desenvolvimento Econômico do C40 e moderador da sessão. Encontrar esse equilíbrio, como mostrou a discussão que iniciou as atividades do Fórum, depende primordialmente de fomentar o financiamento sustentável.
No caminho traçado pela COP 21, as cidades estão focadas em financiar e implementar projetos urbanos sustentáveis que transformem em realidade a visão que temos de “cidades de baixo carbono”. Os projetos e ações que impulsionam a sustentabilidade, contudo, muitas vezes acarretam custos – e como as cidades poderão arcar com esses custos é a questão a ser respondida: “Para mim, o principal destaque do Acordo de Paris é que, agora, as cidades sabem o poder que têm. Estamos, então, discutindo como construímos essas cidades sustentáveis. Esse trabalho depende do diálogo entre gestores municipais, prestadores de serviço financiadores”, ressaltou Val Smith, Diretora de Sustentabilidade da Citi Foundation.
Uma pesquisa econômica recente estima um déficit de investimento anual de 4,1 trilhões a 4,3 trilhões de dólares entre a infraestrutura urbana atual e o que as cidades precisam para acompanhar o crescimento urbano projetado. O crescimento populacional previsto para as próximas décadas – até 2045, 6 bilhões de pessoas estarão vivendo em áreas urbanas – surge como um desafio para as cidades, mas também como uma oportunidade, como destacou a especialista da Citi: “O aumento do número de pessoas nas áreas urbanas é uma oportunidade para as cidades investirem em novas soluções e infraestruturas. Disso depende a sustentabilidade do nosso futuro”.
Painelistas discutiram sobre as oportunidades de financiamento para a sustentabilidade nas cidades (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
O trabalho integrado e o diálogo entre administrações municipais e financiadores é o passo a ser dado para que o financiamento de projetos urbanos sustentáveis se torne uma realidade. Enquanto as cidades já contam com projetos tecnicamente desenvolvidos, ainda carecem de capacidade financeira para implementá-los. Financiadores, por sua vez, possuem os fundos necessários, mas precisam de projetos em que investi-los. É preciso, portanto, unir os dois lados. “Há um enorme potencial para a implementação de projetos sustentáveis nas cidades”, afirmou o Diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, Luis Antonio Lindau. “E os bons exemplos que temos de trabalho conjunto entre cidades e investidores mostram que o elemento essencial é o diálogo, oportunidade que temos aqui hoje”.
A demanda pela incorporação da sustentabilidade nas agendas municipais é crescente. A população urbana, também crescente, deseja viver em cidades capazes de atender suas necessidades por meio de serviços eficientes, mas que não agridam o meio ambiente, como pontuou Marco Aurélio Cardoso, Secretário Municipal da Fazenda do Rio de Janeiro: “Não podemos ignorar essa necessidade. Mas, para atende-las, temos de desenvolver novos mecanismos para financiar esses projetos. E isso vai além das iniciativas tradicionais: precisamos inovar, fazer mais do que estamos fazendo hoje”.
Tornar as cidades prósperas não é uma ciência exata. Mesmo elementos comuns dessa equação – como o trabalho conjunto entre diferentes setores, o investimento em expertise técnica dentro das prefeituras e o desenvolvimento de soluções inovadores e sustentáveis – precisam ser adaptados às diferentes realidades urbanas. De qualquer forma, o diálogo lança possibilidades promissoras para o futuro das cidades: “Nós não temos todas as respostas. Como construiremos as cidades do amanhã vai depender de como todos nós – lideranças municipais, representantes do setor privado e da sociedade – trabalharemos hoje com o financiamento e a implementação de projetos sustentáveis. Mas essa é a questão: é preciso dialogar e trabalhar em parceria”, afirmou o CEO da Citi Brazil, Helio Lima Magalhães.