Missão México: priorizar pedestres é sinônimo de salvar vidas
Foi em um ensolarado Dia Mundial Sem Carro que os vencedores dos concursos Acessibilidade para Todos e São Paulo Áreas 40 despediram-se da Cidade do México – mas não sem uma última rodada de aprendizados com especialistas locais.
A programação começou com Marco Priego, Diretor de Mobilidade Urbana do WRI México. O cenário foi o Monumento a la Revolución, um dos mais reconhecidos da cidade e integrante de um conjunto dedicado a celebrar a Revolução Mexicana, junto à Plaza de la República e ao Museo Nacional de la Revolución. Sob a sombra do monumento, Marco recuperou a história do CTS EMBARQ México, com 15 anos de atuação no país. O que começou com o projeto do hoje consolidado sistema BRT da capital mexicana, o Metrobús, tornou-se um centro de reconhecida atuação na promoção de cidades sustentáveis.
“Nosso trabalho teve início a partir da necessidade das cidades de apoio técnico para o desenvolvimento de bons projetos. A cidade não estava preparada para receber um sistema de transporte de massa, mas tudo o que queríamos era que as pessoas pudessem contar com transporte coletivo eficiente e que pudessem entrar e sair dos ônibus com segurança”, relembrou.
Marco Priego: pedestres devem ser prioridade (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Desde então, o centro se consolidou e trabalha em parceria com a administração da Cidade do México para promover o desenvolvimento urbano sustentável nas cidades mexicanas. Em 2014, foi promulgada na capital mexicana a Lei de Mobilidade e, em dezembro de 2015, a cidade aprovou seu primeiro código de trânsito, que estabelece medidas de segurança viária e uma hierarquia modal com os pedestres em primeiro lugar, seguidos pelos ciclistas, modos de transporte coletivo e, por último, os automóveis. “É preciso entender que a segurança viária não é responsabilidade apenas das pessoas que estão na rua caminhando – é uma responsabilidade dos governos e das administrações municipais. As cidades precisam fazer todas as intervenções necessárias para proteger os pedestres. Porque, protegendo os pedestres, estamos salvando vidas”, enfatizou o especialista.
Nove meses depois da implementação do código de trânsito, estima-se que as mortes no trânsito tenham caído 18%. “Resultados assim mostram que tudo o que fizemos nesses anos – todas as ideias, todos os projetos, todas as discussões e o trabalho de convencimento – valeu a pena e ajudou a causar uma mudança significativa na realidade. Pequenas ideias podem crescer, tomar forma e mudar as cidades”, garantiu.
Viajantes em frente ao Monumento a la Revolución (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Pedestres em primeiro lugar
O segundo e último encontro na agenda dos viajantes veio para reforçar – na prática – os ensinamentos dos últimos dias de missão técnica. No número 8 da Rua Tlaxcoaque está o Laboratorio para la Ciudad, criado recentemente para ser o espaço de inovação e criatividade urbana Cidade do México. Lá, uma equipe multidisciplinar trabalha com intervenções urbanas em diferentes espaços da cidade, abordando a segurança dos pedestres de uma forma lúdica, a fim de estabelecer o diálogo e uma relação colaborativa entre governo, sociedade, setor privado e organizações não governamentais.
Nesse ambiente, encontramos Jorge Cañez (abaixo), cientista político, coordenador do programa Ciudad Compartida do Laborátório, ciclista e pedestre: “Nossas cidades, muitas delas, são cidades sequestradas pelos automóveis. Aqui, trabalhamos para impulsionar projetos de mobilidade e planejamento urbano para reverter esse cenário e devolver a cidade às pessoas, em todas as diferentes formas com que se locomovem por ela”.
(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Após uma breve conversa, o grupo foi às ruas para ver em ação outro lado de Cañez: Peatónito, o super-herói urbano que luta pela segurança dos pedestres.
Cañez como Peatónito (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Uma das intervenções apresentadas por Cañez: a presença do cone fez com que os motoristas reduzissem a velocidade ao converter (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
No percurso, o grupo pode observar a efetividade de intervenções estruturais nas vias que garantem a segurança e a prioridade dos pedestres ao estimular um comportamento mais seguro e preventivo por parte das pessoas, estejam a pé, de bicicleta ou de carro. Isso acontece porque a segurança viária está diretamente ligada ao desenho urbano: áreas planejadas com foco na segurança de pedestres e ciclistas, com infraestruturas voltadas para os modos ativos e coletivos, reduzem a ocorrência de acidentes. Balizadores, ilhas de refúgio, faixas, pinturas na via, prioridade semafórica e redução das distancias de travessia são alguns desses elementos.
“Uma cidade justa é aquela em que as pessoas não ocupam os espaços públicos por obrigação ou necessidade, mas por prazer. Se há lutadores no ringue, por que não nas ruas? Com a capa e a máscara, encontrei uma forma lúdica de propagar a mensagem de ruas seguras, defender os direitos dos pedestres e ajudar a construir uma cidade melhor”, encerrou.
No Dia Mundial Sem carro, os vencedores dos concursos Acessibilidade para Todos e São Paulo Áreas 40 encerraram sua jornada de aprendizados na Cidade do México. De bicicleta, a pé ou de ônibus: missão cumprida.