Integração de modais e novas tecnologias são apresentados em seminário em Belo Horizonte
Diversas cidades brasileiras já demonstram preocupação e caminham em diferentes ritmos em busca de soluções para os problemas acarretados pelos veículos no ambiente urbano. O painel "Tecnologias Veiculares Alternativas nas Cidades Brasileiras", parte da programação do "Seminário Internacional Mobilidade Urbana e Meio Ambiente", realizado nessa terça-feira (15) em Belo Horizonte, abriu espaço para a exposição de algumas ações que estão sendo executadas e, principalmente, para debater o que ainda pode ser feito. O evento foi organizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis com o apoio da Embaixada Britânica.
Renato Boareto (abaixo), Coordenador da área de Mobilidade Urbana do IEMA (Instituto de Energia e Ambiente), órgão responsável pela realização de diversos inventários e pesquisas nacionais, começou o painel expondo alguns dados sobre as emissões de CO2 no Brasil. “O transporte público é o maior emissor de CO2 no Brasil, com 440,4 megatoneladas. Do total, 55% vem do setor de transportes”, afirmou. Segundo ele, 77% desse índice representa o transporte individual e 23% do transporte coletivo.
(Foto: Sergio Trentini/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Medidas para o desenvolvimento tecnológico de motores e fontes de energia são, historicamente, direcionadas para o transporte individual. Boareto usou o termo “eco-congestionamento” para explicar no que ele acredita que resultará essa busca por soluções voltadas apenas ao transporte individual. Na concepção do especialista, outra questão a ser considerada são os recursos para o desenvolvimento de soluções sustentáveis para o setor transportes: “Soluções para o transporte individual devem vir do mercado. Recursos públicos devem ser voltados apenas para o transporte público.Se considerarmos o consumo per capita, um passageiro de automóvel chega a consumir quase 10 vezes mais energia do que um usuário do transporte coletivo.”
Para Boareto, as pessoas respondem aos sinais dados pelo poder público, como estacionamentos gratuitos ou incentivos fiscais para a compra de carros, por exemplo. Dessa forma, explica ele, é muito difícil fazer com que a população substitua o modal que já utiliza. O especialista sugere a incorporação da dimensão ambiental e da mudança do clima no âmbito das normas e procedimentos do governo federal na mobilidade urbana. "É necessário a elaboração de padrões técnicos e outras medidas estruturadores que orientem a atuação dos governos locais", ressaltou.
(Foto: Sergio Trentini/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
O professor da COPPE-UFRJ, Marcio D’Agosto (acima), também acredita que a mudança de modal pode ser de grande importância na construção de melhores cidades para se viver. “Ganhos significativos na redução de custos e impactos ambientais podem ser obtidos através da transferência de modal e na gestão de transportes”, disse. D'Agosto citou diversas formas de integrar os diferentes tipos de transporte utilizados pela população das grandes cidades. Em praticamente todos os cenários o ônibus se fez presente em algum momento. “O ônibus desempenha um papel integrador quando pensamos em unir diferentes modais”, explicou o especialista. Ele considera importante que a população escolha com equidade – e não igualdade – as formas de transporte: “Para isso, as cidades precisam desenvolver uma rede de opções, que inclua a tecnologia da informação auxiliando nesse processo".
A proposta feita pelo professor é pensar na resposta a uma pergunta específica: “Que tipo de qualidade de transporte por ônibus nós queremos?”. Para ele, só dessa forma é possível comparar os modos disponíveis entre um ônibus que está inserido em um contexto de utilização de energias sustentáveis com ônibus a diesel que existe hoje disponível.
(Foto: Sergio Trentini/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Por fim, o presidente da URBS Curitiba, Roberto Gregorio da Silva Junior (acima), expôs os trabalhos da empresa especialmente no que diz respeito ao uso do biodiesel. No ano de 2009, a capital paranaense passou a utilizar, em parte de sua frota de ônibus, o B100 de origem 100% vegetal. Em uma iniciativa inédita e coordenada pela URBS, os seis primeiros ônibus urbanos do Brasil passaram a operar no transporte coletivo utilizando apenas o biodiesel, fazendo de Curitiba a primeira capital na América Latina a utilizar esse tipo de combustível. Atualmente, a frota atual de veículos B100 é de 34 - 26 veículos biarticulados, seis articulados e dois veículos padron-híbridos. O consumo mensal de biodiesel B100 na cidade é de, em média, 150 mil litros. Comparados aos demais ônibus, que operavam com uma mistura de diesel e biodiesel, os que fazem uso do B100 apresentaram redução de 25% nos índices de opacidade e 30% nos índices de emissões de monóxido de carbono.
Curitiba estuda, ainda, restringir e controlar o acesso e a circulação, permanente ou temporária, de veículos motorizados em horários e locais específicos onde é especialmente importante diminuir emissões e resíduos, como no entorno de hospitais e escolas. Serão as chamadas barreiras eletrônicas: “Podemos programar que, a partir do momento que o veículo entra em uma determinada zona, ele só vai operar no modo elétrico”, exemplificou.
Existe na cidade uma compatibilização entre planejamento e gestão de mobilidade em prol da melhoria na qualidade do meio ambiente, além do estímulo às novas tecnologias que visam à redução de poluentes e priorizam as fontes de energias renováveis. Segundo Gregorio, as diretrizes legais de Curitiba já priorizam o transporte coletivo no espaço viário, e a revisão do Plano Diretor, em curso atualmente, irá definir as diretrizes para as próximas décadas. “Curitiba já tem, há muito tempo, uma legislação que é promotora das soluções ambientalmente mais corretas. Um dos próximos passos importantes no nosso entendimento é um Marco Regulatório”, concluiu.