Experiências em mobilidade são apresentadas em seminário para discutir as oportunidades de Florianópolis
Nesta terça-feira (8), teve continuidade o seminário “Mudanças climáticas, mobilidade e inovação”, em Florianópolis, realizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis com o apoio da Embaixada Britânica e em parceria com a prefeitura da cidade. O prefeito Cesar Souza Júnior (abaixo) participou da abertura do evento, que apresentou os resultados do projeto Urban Mobility: UK Expertise supporting PAC funded projects e debateu lições aprendidas e perspectivas de intercâmbio entre cidades brasileiras e britânicas, pensando nas ferramentas regionais disponíveis para o desenvolvimento das cidades brasileiras.
(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
“Quando assumimos a administração de Florianópolis, não havia um plano – agora há. Avançamos bastante na área de transportes e mobilidade, mas, sem dúvida, esse é o grande desafio da cidade. Não só do meu governo, mas da nossa geração”, disse o prefeito. Para mostrar a posição da capital catarinense no contexto da mobilidade urbana, o Secretário Municipal de Obras, Rafael Hahne, apresentou uma visão geral dos projetos do município, lembrando que 48% das viagens são feitas em transporte motorizado individual e apenas 24% em transporte público. Nesse sentido, o anel viário central, que contará com 17 quilômetros de corredores exclusivos para ônibus e que está com contrato assinado para início das obras, é visto como o grande investimento para melhorar o trânsito na região. Nos próximos anos, o investimento no projeto será em torno de R$ 1 bilhão. Além disso, Florianópolis busca implantar o sistema de Intelligent Transportation Systems (ITS), com gestão de informação integrada para que se possam tomar as melhores decisões em relação ao transporte público.
Estudos e exemplos
Guilherme Medeiros, Coordenador Técnico da SC Participações e Parcerias S.A. e Diretor na Secretaria Estadual de Transportes de Santa Catarina, apresentou dados do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (PLAMUS), estudo contratado pelo governo do Estado, apoiado pelo BNDES e com parceria do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, elaborado com o objetivo de propor soluções para a melhoria da mobilidade urbana em 13 municípios da Região Metropolitana de Florianópolis. A população total atendida pelo plano é de 959.158 pessoas.
Segundo o estudo, na medida em que o sistema rodoviário foi sendo implementado em Santa Catarina, as cidades começaram a se espalhar As distâncias percorridas têm se tornado cada vez maiores e, com isso, o transporte coletivo fica menos vantajoso. “É importante prestar atenção no padrão de desenvolvimento para tentar reverter o modelo de crescimento. Estamos fazendo investimentos importantes no sistema de transporte coletivo. Tão importante quanto investir em um sistema de transporte, é observar o uso do solo e para onde a cidade se desenvolve”, comentou Medeiros. O engenheiro defendeu que continuar priorizando o transporte motorizado individual pode levar à saturação das vias. Ao observar a distribuição horária e a divisão modal do Estado, vê-se que 75% das viagens são feitas em automóveis e 13% em motocicletas, um fluxo que movimenta 11 mil pessoas por hora e ocupa 90% da capacidade da ponte de Florianópolis. Em contrapartida, apenas os ônibus respondem por apenas 3% dos deslocamentos, embora carreguem 10 mil pessoas por hora e ocupem apenas 1% da capacidade viária.
Um exemplo positivo nesse sentido é o MOVE, sistema BRT de Belo Horizonte. Nesta terça, 8 de março, completam-se dois anos da inauguração do primeiro corredor de BRT da capital de Minas Gerais. Liliana Hermont, arquiteta da BHTrans, falou sobre o sistema, que transporta cerca de 35 mil passageiros no corredor Antônio Carlos e 24 mil no corredor Cristiano Machado na hora pico da manhã. A redução média no tempo de deslocamento dos passageiros foi de 52%. O MOVE também investiu em sistemas de informação; o SitBus, por exemplo, conta com sistemas de bilhetagem eletrônica, apoio a operação e de informação ao usuário. Entre as funcionalidades apresentadas, estão os aplicativos para controle operacional e o SIU Mobile, aplicativo que traz informações de previsão de tempo de chegada e trajeto dos coletivos. “Um dos nossos desafios é a grande disponibilidade de informações. Porque não basta ter, é preciso saber o que fazer com essas informações em tempo real”, comentou Liliana.
(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Para ajudar a pensar sobre as possibilidades de transporte nas cidades brasileiras, Cláudia Ramirez (acima), consultora da Steer Davies Gleave, apresentou alguns exemplos levantados no estudo de intervenções de políticas inovadoras no Reino Unido voltadas à realidade brasileira, com foco na mobilidade de Florianópolis e Salvador. As maiores necessidades identificadas foram estratégias para pedestres; a bicicleta como modo de transporte; redução das viagens de veículo individual motorizado; qualidade e confiabilidade do transporte público; e reconhecimento e melhoria no transporte de carga. Como questões transversais, estão a qualidade do ar, o gerenciamento da demanda de viagens, a inovação, as ferramentas de monitoramento e controle e as fontes de financiamento. "É preciso pensar de forma estratégica. Alguns aspectos-chave que fazem com que pareça fácil implantar ações bem-sucedidas em Londres é que a cidade tem uma política com objetivo claro, que facilita programas de financiamento e monitoramento, e sabe a importância da qualidade do ar. A integração intersetorial é muito forte em Londres e facilita com que se implementem as ações”, enfatizou Claudia.
Para finalizar o painel, Renata Portenoy, arquiteta e consultora ambiental, mostrou exemplos positivos para as mudanças na realidade urbana das cidades. Foram apresentados os impactos positivos da gestão da demanda de viagens, do exemplo do parklet Vaga Viva Ciclo Orgânico, que será inaugurado no Rio de Janeiro, da Rua Compartilhada em Fortaleza, do Mobilab em São Paulo, que oferece dados do transporte coletivo da cidade em tempo real, e do teleférico do morro da providência, a primeira favela do RJ, que faz parte do projeto Morar Carioca, o maior de urbanização de favelas do Brasil.
Participação do público
Na última atividade da tarde, os participantes do seminário foram convidados a discutir as políticas e tecnologias analisadas no relatório da Steer Davies Gleave. Divididos em grupo, elencaram prioridades e debateram oportunidades e barreiras para que as ações possam ser implantadas em Florianópolis.
(Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Entre as questões mais apontadas, apareceram a caminhabilidade, a integração de sistemas de compartilhamento de bicicletas à rede de transportes, a melhoria na confiança nos tempos de viagem do transporte público e a redução dos congestionamentos, o estímulo a escolhas inteligentes de transportes, a segurança nas rotas de bicicleta e a melhoria na eficiência e efetividade da operação dos transportes públicos. Enquanto as possibilidades tecnológicas como o sistema ITS foram consideradas boas oportunidades, o alto custo apareceu como barreira em diversos pontos da dinâmica.
Cesar Souza Júnior: planejamento para satisfazer as necessidades da cidade
Durante a abertura do evento, o prefeito de Florianópolis conversou com a equipe do WRI Brasil Cidades Sustentáveis sobre a importância dos projetos em mobilidade urbana que estão em andamento na cidade. Confira:
Estamos falando sobre a relação entre mobilidade urbana e mudanças climáticas. Como o senhor vê Florianópolis neste contexto?
Já temos uma série de projetos selecionados com recursos federais que serão implementados. O importante é fazer essas obras e intervenções de maneira que elas já nasçam conectadas com as necessidades que a cidade e o mundo vão ter, como maior eficiência energética e menor emissão de poluentes, e com mais funcionalidade, aprendendo inclusive com os acertos e erros de outras capitais. A lógica para que projetemos o BRT é inescapável, também ligando os outros municípios da região metropolitana. Esse é o caminho que mais se adéqua a Florianópolis, e as grandes obras que estão sendo feitas na cidade respeitam essa lógica. Por isso, a parceria com o WRI Brasil é extremamente importante. A organização tem uma expertise técnica exemplar, que já nos ajudou na época da formatação desses projetos e, agora, segue nos ajudando no momento da implementação.
Quais as expectativas para as perspectivas da população em relação ao projeto do Anel Viário?
Essa é a maior intervenção em transporte público já realizada em Santa Catarina. É uma obra de grande porte, que passa por regiões bastante importantes para a cidade. São questões que estão há 20 anos aguardando com muita confusão, muitas desapropriações, com a liberação da própria Universidade, com intervenção em vias e com a oposição daqueles que inclusive queriam mais espaço para os veículos individuais. Então, eu acredito que o projeto ficou muito bom, foi muito discutido e aperfeiçoado, com as experiências nacionais e internacionais, e eu espero que as pessoas possam avaliar e criticar, mas que estejam certas de que vão se surpreender positivamente com a qualidade do projeto.