Estudo mostra como organizações podem mudar políticas de transporte de funcionários
Quando se discute as cidades, a questão do transporte é uma das mais lembradas pela população, pois impacta diariamente a vida de todos. A quantidade de veículos circulando nas cidades já ultrapassou a capacidade de seus sistemas viários em muitos lugares. Estratégias de Gestão de Demanda de Viagens (GDV) buscam otimizar esses deslocamentos. Um estudo realizado pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) com a parceria técnica do WRI Brasil Cidades Sustentáveis analisou seis empresas para mostrar o potencial econômico dessas medidas, uma vez que, aproximadamente, 50% de todos os deslocamentos realizados diariamente têm como motivo o trabalho.
A colaboração é uma forma de difundir o conceito de GDV, ao apresentar boas práticas de mobilidade corporativa, mapear os custos relacionados ao transporte nas organizações participantes e identificar medidas que podem ser implementadas para reduzir custos com o incentivo ao transporte individual nessas e em outras empresas. Ao todo, seis grandes organizações participaram do projeto ao envolver seus departamentos de sustentabilidade, área financeira, de gestão de frotas, entre outras. As empresas Allianz, Braskem, CEBDS, Ecofrotas, Michelin e Shell estão situadas em importantes cidades brasileiras, como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre e Salvador, e possuem entre 17 e 6.642 funcionários.
Os gastos relacionados ao transporte nas organizações participantes foram mapeados através de uma planilha de custos desenvolvida pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis. Concluída a coleta de dados, utilizou-se a técnica de benchmarking funcional, para comparar o desempenho de cada organização em relação aos dados levantados e revelar as melhores práticas dos participantes.
Ao todo, foram estudadas 11 medidas: cobrança de estacionamento, política de carona, informação sobre os meios de transporte, isenção do desconto do vale-transporte, incentivo ao ônibus fretado, shuttles com estações de transporte coletivo e outros pontos de interesse, instalações para ciclistas, política de volta para casa garantida, política de teletrabalho uma vez a cada duas semanas, política de teletrabalho uma vez a cada semana e, por fim, política de táxi corporativo, a única que não reduz o número de viagens de automóvel.
A medida que possui maior impacto na redução estimada de viagens em veículo individual motorizado é a cobrança de estacionamento. De acordo com o estudo, se há um amplo estacionamento gratuito disponível nos locais de trabalho, as tentativas de incentivar uma mudança para hábitos mais sustentáveis de transporte podem ser prejudicadas. Por ser uma medida dura com os funcionários, é recomendada a adoção de ações de incentivo antes, além da indicação do destino dos recursos provenientes dessa cobrança. O impacto da cobrança de estacionamento nos custos totais da empresa relacionados ao transporte pode variar de uma redução de 20% a 30%. Para ambos os casos, foram simulados cenários com a cobrança diária de R$ 5 e R$ 10, respectivamente.
"Hoje, quando olhamos para os benefícios oferecidos pelas empresas, percebemos que sempre está presente a disponibilização de uma vaga, muitas vezes gratuita, para o automóvel. Então, quando comparamos essa vaga com o benefício do vale transporte, que desconta até 6% do salário, é muito lógico que o funcionário opte por usar o automóvel. Isso gera uma demanda maior por estacionamento e a necessidade de sua expansão, ou seja, custos para a própria empresa. Precisamos inverter essa lógica para um transporte mais sustentável", explica o Especialista em Mobilidade Urbana do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, Guillermo Petzhold.
A adoção de uma política de teletrabalho uma vez a cada semana é a segunda medida que pode trazer melhores resultados. “Para a empresa, o teletrabalho representa uma oportunidade, por exemplo, de aumentar o quadro de funcionários sem ter de expandir a infraestrutura, seja a área de escritório ou o número de vagas de estacionamento. Para o funcionário, o teletrabalho traz ganho de tempo, uma vez que elimina a necessidade do deslocamento”, diz o estudo.
Os impactos ambientais gerados por problemas de mobilidade nas cidades são enormes. O levantamento mostra como ações de mobilidade corporativa impactam tanto as empresas, gerando benefícios econômicos, quanto as cidades, na medida em que o incentivo ao transporte sustentável pode contribuir para a redução dos congestionamentos.
As estratégias de GDV representam uma oportunidade para cidades e organizações cumprirem metas de baixo carbono acordadas em nível governamental pelo Acordo de Paris e, no nível empresarial, pela coalizão We Mean Business, em que mais de 200 organizações empresariais aderiram a uma plataforma de medidas de sustentabilidade. Como as mudanças climáticas também podem afetar profundamente a saúde financeira das cidades, a tomada de ação por parte das empresas deve ser uma prioridade para contribuir com um novo cenário de baixo carbono.
Como organizações podem adotar medidas
As organizações podem desempenhar um papel importante na definição do modo como seus funcionários se deslocam até elas. Segundo o estudo, os trajetos ao trabalho são responsáveis por consumir entre 55 e 85 minutos diários. Isso significa de 10 a 15 dias por ano de cada funcionário. O alto tempo dispendido pelos funcionários impacta na sua produtividade resultando em perdas para a empresa. O trabalho realizado nas seis organizações participantes envolveu a realização de um workshop de sensibilização, realizado no dia 24 de setembro de 2015, em São Paulo, onde foram promovidas interações entre os participantes de cada empresa. As medidas que compõe a estratégia de mobilidade corporativa podem ser classificadas em três grupos:
Promoção dos meios alternativos de transporte: visa, principalmente, diminuir o número de veículos com apenas uma pessoa. Entre elas estão o incentivo à caminhada, ao uso da bicicleta, do transporte coletivo, do ônibus fretado e da carona.
Mudança na jornada de trabalho: visa, principalmente, diluir o trânsito durante o horário pico e até mesmo evitar deslocamentos. Pode ser feita através da adoção de teletrabalho, horário flexível, horário escalonado e semana comprimida.
Medidas financeiras e de suporte: busca a adoção de incentivos e desincentivos financeiros, política de volta garantida para casa e marketing.