Dez soluções de desenho viário para aumentar a segurança em sistemas prioritários para ônibus
Se colocar no lugar das pessoas na hora de projetar. Esse princípio básico precisa ser sempre reforçado para que novas infraestruturas saiam do papel com a qualidade suficiente para garantir acessibilidade e segurança para as pessoas. Isso salva vidas. Nesta terça-feira (7), o WRI Brasil realizou um workshop com técnicos da prefeitura de São Paulo responsáveis pela qualificação do corredor de ônibus Campo Limpo, que liga a zona sul ao centro da capital paulista. Previsto para passar por uma requalificação, a infraestrutura com extensão de 17,2 km atende mais de 40 linhas de transporte coletivo.
Para que os aprimoramentos saiam do papel com capacidadade de evitar acidentes e fazer com que as pessoas se sintam atraídas a escolher o transporte coletivo em vez do individual, a equipe do WRI Brasil apresentou conceitos de segurança viária e de melhorias de acesso às estações.
Abaixo, veja 10 tipos de acidentes que poderiam ser evitados a partir de soluções de desenho urbano apresentadas por Rafaela Machado, especialista de Segurança Viária do WRI Brasil.
Quando não há infraestrutura, muitos ciclistas escolhem o corredor de ônibus, que tem uma frequência menor de veículos em relação às vias de tráfego misto, o que dá uma sensação de segurança por não ter tantos conflitos. Porém, a diferença de massa é muito maior do que com os carros. Por isso, a severidade desse tipo de acidente é alta.
Solução: garantir boas infraestruturas para bicicletas, como ciclovias, ciclofaixas e outras, que desencoragem os ciclistas a usar a faixa de ônibus.
Quando veículos não autorizados circulam ou invadem um trecho do corredor de ônibus instalado na faixa central, acidentes de severidade moderada podem ocorrer. O mais comum, nesse caso, acontece quando os ônibus demoram para visualizar os veículos e não conseguem parar a tempo.
Solução: garantir, sempre que possível, uma segregação para impedir conflitos. Quando não for possível, sinalizar muito bem para que os ônibus não sejam surpreendidos e possam reagir com antecedência.
Muitas vezes, quando o trânsito de veículo na faixa de tráfego misto é intenso, os pedestres se sentem encorajados a atravessar em meio aos veículos, fora da faixa de travessia. Além do risco de atropelamento por motos nesse percurso, há risco de acidentes de severidade alta na travessia do corredor dos ônibus, quem estão em velocidade maior devido à faixa mais livre.
Solução: assegurar acessos diretos, que respeitem as linhas de desejo dos pedestres, construir travessias próximas umas das outras, com tempos semafóricos que dêem conforto a todos os tipos de pessoas.
Conversões à esquerda sobre a faixa de ônibus são sempre perigosas, criam muitos pontos de conflito na interseção, aumentando muito o risco de colisões. Muitas vezes também dificultam a travessia de pedestres, pois aumentam o número de fases necesárias para acomodar todos os movimentos, fazendo com que o pedestres precisem sempre negociar com os carros, mesmo nas faixas de segurança.
Solução: sempre que possível, minimizar o número de movimentos permitidos na interseção. Isso pode ser feito, por exemplo, com a implanetação de laços de quadra, substituindo esses movimentos.
Nesse caso, o veículo está usando a faixa adjacente mas, em muitos casos, ele entra no corredor porque há autorização para utilizar tal espaço e fazer a conversão. Os veículos podem cortar a frente de um ônibus, que tem pontos de visão muito diferentes dos de um carro. Principalmente quando envolve uma motocicleta, esse tipo de desenho cria um conflito muito grave perto das interseções.
Solução: quando é permitido ter acesso a algum ponto especifico, como garagem, ponto de comércio ou fazer conversões à direita pela faixa de ônibus, é fundamental manter velocidades moderadas para que os veículos possam lidar com os conflitos e sinalizar os movimentos com antecedência. Também é preciso reforçar a visibilidade entre todos usuários da via e atender para esses problemas dos pontos cegos do ônibus, que são diferentes de os de um carro.
Esse é um caso clássico de pontos de parada mal dimensionados para o volume de pedestres, em que ocorrem grandes aglomerações de pessoas. Com tanta gente na calçada, muitos acabam esperando o ônibus no meio da via ou caminhando pela via, aumentando o risco de atropelamentos.
Solução: garantir estruturas adequadas (largura de calçada suficiente, mobiliário urbano que não obstrua a faixa livre dos pedestres, atenção aos conflitos com infraestrutura cicloviária, etc) para pedestres nos pontos de parada, atendendo aos volumes esperados de passageiros.
Nas estações de transporte coletivo, muitos conflitos podem causar acidentes. Um dos casos clássicos de acidente em corredores de ônibus é a colisão traseira na plataforma da estação. O ônibus está parado na estação, outro tenta se aproximar e acaba colidindo atrás do anterior. Como as velocidades são mais baixas, ou pelo menos é o que se espera, em geral esses acidentes têm severidade baixa.
Outro acidente que ocorre com frequência nas estações, quando dois veículos estão andando simultaneamente e um deles tenta sair da faixa mais próxima da estação e outro tenta entrar, causando uma colisão lateral. Também tem severidade baixa em função das velocidades mais reduzidas.
Solução: orientar os condutores a sempre verificarem as condições antes de trocar de faixa e garantir velocidades baixas mesmo na faixa das linhas expressas.
Esse tipo de acidente traz grandes riscos e pode ter vítimas fatais. Acontece quando há faixas de ultrapassagem próximas à estação e um veículo expresso segue pela faixa da direita, mais afastada da estação enquanto, ao mesmo tempo, um ônibus sai da estação para entrar na via expressa. O motorista do ônibus mais rápido não percebe que o outro está saindo ou não tem tempo de agir e colide em alta velocidade no outro ônibus.
Solução: isso enfatiza que, principalmente nas áreas próximas às estações, as velocidades precisam ser mais baixas, mesmo para veículos expressos que não parem naquela estação. É importante capacitar os condutores, tanto o de veículos expressos, para observar se outro veículo entrará na pista, quando os demais, na hora de entrar na outra pista.
Uma situaçao muito recorrente, infelizmente, e muito grave. Em muitos locais, principalmente aqueles com pagamento antecipado de tarifa, alguns pedestres tentam acessar a estação pela plataforma de embarque e desembarque em vez de fazer o acesso pelas travessias e portas. Isso também está relacionado a uma série de problemas sociais e econômicos ou mesmo ao entendimento do funcionamento da estação. Além disso, muitas vezes os acessos indicados para os pedestres não são a linha de desejo, aumentando muito o trajeto necessário para acessar a estação.
Solução: garantir oportunidades de acessos seguros, com travessias curtas, diretas, acessíveis, que estajam de acordo com os principais caminhos de desejo dos pedestres, além de prover informações sobre o sistema.
Um novo olhar para o corredor Campo Limpo
Durante o workshop, Diogo Lemos, analista de Segurança Viária do WRI Brasil, apresentou um diagnóstico das áreas de risco do corredor Campo Limpo e os tipos de soluções possíveis para a melhoria do projeto de qualificação proposto pela prefeitura de São Paulo. Foram identificados quatro pontos críticos do corredor, de acordo com número de acidentes e trechos de maior conflito. "É nítido o impacto positivo da redução do limite de velocidade para 50 km/h e do aumento da fiscalização, fatores que contribuíram para uma redução expressiva no número de atropelamentos e acidentes. Agora, é preciso pensar um projeto de qualificação que reverta os problemas de desenho urbano existentes, garantindo calçadas amplas, acessíveis, travessias e interseções seguras e infraestrutura para bicicletas, que beneficiarão as 300 mil pessoas que circulam ali diariamente a pé e pelo transporte coletivo", explica Diogo.
Como é possível que a capacidade do corredor seja aumentada, com mais ônibus e pessoas circulando, é preciso levar em consideração diversos critérios de impacto. Os técnicos da SPtrans, SP Obras, SP Urbanismo, CET e demais participantes puderam discutir possíveis soluções de desenho urbano a serem aplicadas em cada um dos quatro pontos críticos. As soluções e diretrizes presentes nas publicações e nas pesquisas do WRI Brasil, apresentadas pelos especialistas da organização durante o workshop, serviram de base técnica para as discussões. As discussões percorreram aspectos como os melhores espaços para os pontos de parada, a previsão de aumento de fluxo de pesssoas, as condições de acesso aos pontos de parada, como se dará a integração om outros modos de transporte, como aumentar a segurança viária, a oferta de estacionamento e a qualidade dos espaços públicos, além de diretrizes de projeto (número e largura de faixas de ônibus, das faixas mistas, a largura das calçadas e a presença ou não das ciclovias).
Grupos debateram soluções para o corredor Campo Limpo, em São Paulo (foto: Bruno Felin/WRI Brasil)
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