Desafios brasileiros em mobilidade são debatidos com especialistas britânicos
A segunda rodada do workshop na Future Cities Catapult, nesta quinta-feira (2), foi dedicada aos desafios das cidades brasileiras participantes da Missão Cidades Sustentáveis Brasil | Reino Unido, que encerra nesta sexta-feira (3), no Velho Continente. Os representantes de Salvador, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Florianópolis foram convidados a dividir seus objetivos principais em termos de mobilidade e desenvolvimento sustentável. Conduzidos pelos especialistas da Future Cities Catapult, Andrea Edmunds, diretora de Inovação, e Adam Rae, cientista de Dados, os participantes responderam ao grande grupo quais desafios precisam superar e quais ferramentas conhecidas ao longo da Missão Técnica podem ser aplicadas em seus municípios.
“Belo Horizonte ambiciona ter o melhor BRT do Brasil”
Liliana Hermont, superintendente de Gestão e Tecnologia de Transporte da BHTrans, e Ana Paula Lemos, assessora do Gabinete do Prefeito de Belo Horizonte, contam que o BRT MOVE já é um ícone, mas a capital mineira deve investir em uma melhor operação do transporte para ampliar ferramentas de controle, uma vez que “Belo Horizonte ambiciona ter o melhor BRT do país”, explica Liliana. A falta de mais espaços públicos agradáveis e acessíveis também foi uma questão levantada pelo grupo.
Liliana e Ana Paula comentam desafios de Belo Horizonte. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Uma das aplicações práticas que conheceram e gostariam de levar para BH é a possibilidade de transformar dados em informação. A cidade já conta com muitos dados disponíveis, um centro de controle bem estruturado com os serviços públicos da cidade, mas ainda não conseguiu aplicar ferramentas.
Rio de Janeiro e as várias centralidades possíveis
Para Vicente Loureiro, diretor Executivo da Câmara Metropolitana de Integração Governamental do Estado do Rio de Janeiro, o planejamento direcionado a uma única região central está ultrapassado. A descentralização da gestão e serviços oferecidos à população, que ocorre com os Boroughs de Londres, são uma inspiração.
Guilherme Johnston, da Embaixada Britânica, Vicente Loureiro, do RJ, e Luiza Gomide do Ministério das Cidades. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
O especialista lembra que a RM do Rio de Janeiro possui o maior tempo de deslocamento casa-trabalho de todas as regiões metropolitanas do Brasil, com um tempo médio de 4 horas. “Estamos contratando agora um plano de mobilidade da região metropolitana para pensar soluções”, conta.
Salvador e o caminho para a sustentabilidade
A primeira capital brasileira é uma cidade amada por todos, porém ainda carece de espaços mais acessíveis para pessoas e ciclistas, acreditam os especialistas Lucia Mendonça Santos, gerente de Projetos da SeMob do Ministério das Cidades, e Luis Antonio Lindau, diretor-presidente da EMBARQ Brasil. O desafio ainda é frear a priorização ao carro particular, realidade que pode ser quebrada, ao menos em parte, com a implantação do futuro BRT.
Lindau apresenta possibilidades para Salvador. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
“Salvador possui ainda o desafio de sua geografia, com muitos morros e declives. Essas áreas de encosta são zonas de risco de desabamento quando chove e muitas pessoas são afetadas”, lembra Lindau. Para o especialista a cidade deve aproveitar sua história e cultura para criar um espaço urbano mais sustentável e acessível a todos.
Florianópolis praiana e urbana
Os representantes da capital catarinense, Guilherme Medeiros, coordenador Técnico da SC Parcerias, Rafael Hahne, secretário de Obras de Florianópolis, e Grasiele Xavier de Ávila, secretária Chefe de Gabinete de Florianópolis, consideram a peculiaridade do município ser uma ilha turística um dos principais desafios a serem enfrentados.
De acordo com os representantes, apesar de ter uma população menor do que as grandes cidades, Florianópolis possui problemas igualmente difíceis pela dificuldade de sua geografia, alta taxa de motorização e de visitantes durante o verão. Nesse sentido, Medeiros considera o congestion charging (pedágio urbano) de Londres uma alternativa possível de ser importada com ajustes à realidade local. “Talvez se aplicássemos ao menos em motoristas que são de fora da cidade já aliviaria [o trânsito]”.
Representantes de SC: secretário Rafael Hahne, Guilherme Medeiros e Grasiele Ávila. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
A coleta de dados para construir uma cidade mais inteligente também chamou atenção do grupo catarinense ao longo desta semana. Destacaram a vocação tecnológica de Florianópolis, já um berço de grandes empresas do setor hoje com o Sapiens Parque.
Panorama geral da mobilidade no Brasil
A diretora de Mobilidade Urbana da SeMob do Ministério das Cidades, Luiza Gomide, e o diretor-presidente da EMBARQ Brasil, Luis Antonio Lindau, apresentaram o contexto do setor no Brasil para os especialistas da Future Cities Catapult e outros parceiros do setor privado do Reino Unido. O país sul-americano vive hoje um dos melhores momentos para desenvolver sua mobilidade, com um montante total de R$ 153,7 bilhões de investimentos direcionados ao setor, de acordo com dados do Ministério das Cidades.
Parte dos investimentos já viraram projetos reais, lembra Lindau, como o caso dos BRT – Bus Rapid Transit em Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. “Essas são as cidades que conseguiram executar o planejamento. Hoje já podemos mensurar resultados positivos quanto à redução de emissões de CO2 e no tempo médio de viagem ao longo destes corredores”, comemora o especialista. Só no Rio de Janeiro, quando totalmente implementado, o sistema BRT deverá beneficiar diretamente 2 milhões de pessoas.
Luiza Gomide, diretora de Mobilidade Urbana da SeMob, Ministério das Cidades. (Foto: Maria Fernanda Cavalcanti / WRI Brasil | EMBARQ Brasil)
Os projetos receberam recursos do PAC e estão alinhados às diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana, promovida pelo Ministério das Cidades. A Lei exige o cumprimento de projetos de mobilidade voltados às pessoas com integração física, tarifária e operacional de todos os modos de transporte. “A SeMob tem a missão de promover a mobilidade urbana, de forma segura, socialmente inclusiva e com equidade no uso do espaço público para contribuir na construção de cidades sustentáveis”, ressalta Luiza Gomide.
Lindau lembra ainda que os principais temas relacionados ao setor estarão em debate na Cúpula de Prefeitos e Congresso Internacional Cidades & Transportes, que acontecem em setembro, no Rio de Janeiro. Inscrições em: cidadesetransportes.org
Ao final das apresentações, houve rodada de networking e conversa entre os delegados da Missão, os especialistas da Future Cities Catapult e de empresas de tecnologia parceiras. “Vi hoje aqui muito otimismo por parte dos representantes destas cidades do Brasil. Isso é fantástico e um passo importante para a mudança”, celebra Andrea Edmunds, diretora de Inovação da FCC, no encerramento de mais um dia de trabalho em Londres.
Nesta sexta-feira, a delegação brasileira tem sua última parada em Cambridge, onde conhecerá o BusWay, sistema BHLS (Bus with High Level of Service) da cidade referência internacional.
Momentos de networking na Future Cities Catapult:
Baixe as apresentações:
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