Conectando os pontos: workshop em Belo Horizonte busca soluções para integrar as informações da cidade
A inovação nas cidades pode nascer a partir do bom uso e do compartilhamento de dados que ajudem a solucionar problemas dos cidadãos. Aquelas que sabem trabalhar bem com as informações geradas, seja por pesquisas ou tecnologia, estão um passo à frente na busca por um projeto mais voltado para as necessidades das pessoas. No entanto, os órgãos das prefeituras devem trabalhar de maneira integrada e conectada para realmente entender os problemas que enfrentam. Esse é um dos pontos principais que o design thinking pode contribuir para transformar o cotidiano da administração pública: estimulando diferentes áreas a pensar em conjunto.
Segundo a consultora em inovação e modelo de negócios Maria Augusta Orofino, a inovação do século 21 é aberta, colaborativa, multidisciplinar e global. Cada vez mais, é preciso trabalhar com a confiança de que as pessoas vão colaborar com o projeto proposto. Além disso, a interação entre diferentes áreas e conhecimentos é muito importante e deve se inspirar em exemplos que possam ser aperfeiçoados e adaptados para cada realidade. A ideia que ela defende é criar ligações entre as áreas de conhecimento para atender melhor aos clientes que, no caso das cidades, são os seus habitantes. “Precisamos nos perguntar o que a cidade precisa e vai ser pra isso que acordaremos para trabalhar. É esse o sentido que devemos ver nas nossas vidas”, provocou a especialista.
(Foto: Aloha Boeck/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
O conceito de design thinking é encontrar uma abordagem prática para a solução de problemas através de um olhar humano, oferecendo espaço para ideias em um processo criativo que estimule a colaboração e a experimentação para reduzir riscos no processo de inovação. A técnica integra três partes: a praticabilidade, a viabilidade e a desejabilidade. Ou seja, um projeto com esse ponto de vista tem que ser possível de ser executado e fazer sentido para as pessoas.
Outra questão importante é lembrar-se de não se apegar a apenas uma ideia, mas criar um ambiente em que várias sugestões possam surgir e que todas estarão em teste. “É um processo darwiniano de inovação. Precisamos ter muitas ideias, muitos contatos e aqueles que forem mais resistentes vão sobreviver, sem julgamentos. O julgamento mata qualquer processo de criatividade ou inovação. Ele quebra a possibilidade do outro contribuir", enfatizou Maria (foto acima).
Integração na pauta de Belo Horizonte
Para colocar o conceito em uma situação real, o WRI Brasil Cidades Sustentáveis, em parceria com a Future Cities Catapult e com o apoio da Embaixada Britânica, realizou em Belo Horizonte o workshop Conectando os pontos: Design Thinking para Integração de BH. Representantes de diversos setores da prefeitura municipal se reuniram na tarde desta terça-feira (4) com o desafio de discutir os principais problemas associados ao fluxo de informações entre o Centro de Operações da Prefeitura (COP-BH) e as demais secretarias municipais.
Inaugurado em junho de 2014, o objetivo do COP-BH é melhorar a gestão dos serviços prestados à população a partir de um controle integrado de informações de áreas como defesa civil, saúde, mobilidade urbana, segurança, entre outros. Os participantes da dinâmica puderam, com a orientação de Maria Augusta, encontrar soluções para que o papel estratégico do COP-BH seja mais próximo e atuante no dia a dia da prefeitura, principalmente na integração com as outras equipes da administração.
"Belo Horizonte e inovação são duas coisas que combinam bastante. Uma instituição que trabalha hoje sem ver os seus parceiros lado a lado não sobrevive. Com iniciativas como esse workshop, que colocam colaboradores da prefeitura para pensar a cidade como um organismo vivo, somado à cultura organizacional que herdamos das últimas gestões, é possível projetar uma BH muito boa para os próximos anos. Estamos pensando em um projeto em que as próximas gerações vão atuar, mas com ações que já podemos colocar em prática hoje”, ressaltou Thiago Nagib, diretor adjunto do COP-BH.
(Foto: Aloha Boeck/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
No mesmo sentido, a Secretária Adjunta de Relações Internacionais de Belo Horizonte, Stephania Aleixo de Paula e Silva, entende que as técnicas do design thinking podem ajudar nas lacunas de comunicação existentes em organizações do porte de uma prefeitura e que, independentemente do tema, precisam ser tratadas de maneira diferenciada. “O momento que vivemos, em que grandes agendas estão sendo colocadas e processos muito transversais estão sendo propostos, demanda uma articulação e uma nova estratégia de comunicação. Acredito que esse modelo pode ser um piloto para que a gente possa construir processos que serão essenciais para o que vamos vivenciar no futuro", afirmou Stephania.
O coordenador municipal da Defesa Civil, Alexandre Lucas Alves, sabe bem a importância da comunicação dos diversos setores para o sucesso do trabalho e acredita que momentos de integração possibilitam soluções práticas e de implementação imediata. "Meu trabalho na Defesa Civil já é coordenar múltiplas agências, mas esse momento é importante porque o COP-BH é uma instituição nova e com certeza esse trabalho vai agregar muito à cidade, por envolver atores que nunca se conversaram. Às vezes, os gestores conversam, mas os executores não. E o dia de hoje permitiu isso também", comenta.
A iniciativa do workshop é uma das atividades inseridas no projeto Enabling Smart Cities in Brazil, através do Prosperity Fund da Embaixada Britânica. Ao longo do ano, outros eventos serão realizados, possibilidando novos momentos de integração e troca de experiência para as cidades brasileiras, como a experiência britânica.
"Essa integração tem a ver com democracia, porque você envolve a base, envolve quem atua nas questões. Projetos como smart cities, com conexão de pontos, como o que estamos vendo neste workshop, têm um impacto muito maior do que podemos mensurar agora. O fato de conseguir desenvolver um processo de comunicação eficiente, ágil e transparente ajuda muito o desenvolvimento de várias formas, com resultados mais concretos e democráticos", defendeu Romero Brito, Gerente de Comércio e Investimento do Consulado Britânico em BH.
E esse processo de integração de informações e busca por soluções tem um grande objetivo final: melhorar a qualidade de vida das pessoas, que devem ser consideradas em todos os aspectos durante o processo. “Não tem mais razão ir para um ofício diário se eu não estiver resolvendo o problema de alguém. Hoje, fazemos a transformação na comunidade onde vivemos e podemos causar impactos positivos na vida das pessoas. É isso que importa”, concluiu Maria Augusta.