Comunidades do Rio de Janeiro avaliam indicadores de resiliência individual
O Rio de Janeiro é uma cidade global. Cariocas estão acostumados a alterações na rotina devido a fluxos intensos de pessoas em grandes eventos e épocas de turismo. Dinamismo é palavra de ordem para os 6,4 milhões de habitantes do principal cartão postal do país. No entanto, algumas das mesmas particularidades geográficas e geológicas que embelezam a cidade e atraem turistas, apresentam risco para a população como, por exemplo, as inúmeras construções em morros e encostas, o que favorece a ocorrência de possíveis desmoronamentos a partir de precipitações pluviométricas intensas, bem como inundações e outras catástrofes que causam danos à vida e à integridade humana.
Os desastres podem ser de ordem urbana ou natural e têm se potencializado a cada ano devido às mudanças climáticas. Consciente desse cenário, o Rio de Janeiro fez de 2015 um ano de evolução para o programa lançado no início do ano pela prefeitura, o Rio Resiliente. O projeto busca reduzir a vulnerabilidade de seus cidadãos, aumentar a capacidade de adaptação e da equidade social, bem como incentivar comunidades a ter uma maior cultura colaborativa e indivíduos mais preparados.
Para que o fator resiliência da capital carioca estabeleça um crescente rumo à efetividade, os moradores precisam participar e se apropriar do processo e das ferramentas de construção dele. Esse objetivo motivou a realização de mais uma etapa de estruturação da resiliência carioca: a Oficina de Avaliação de Indicadores de Resiliência Individual, ministrada pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis, e voltada para as comunidades que costumam ser atingidas por esses desastres. O encontro aconteceu nesta quinta-feira (17), na sede da Defesa Civil do Rio de Janeiro.
Oficina de Avaliação de Indicadores de Resiliência Individual
A oficina objetivou encontrar, com o apoio dos líderes e membros das comunidades do Rio e da Defesa Civil, a melhor forma de medir a resiliência nas comunidades. “As mudanças climáticas vão apresentar novos riscos às cidades, precisamos estar preparados para elas e, para isso, precisamos saber quais são os indicadores de resiliência de uma comunidade, o que faz de uma comunidade um ambiente resiliente”, explicou a Analista de Pesquisa do WRI Brasil, Katerina Elias Trostmann, para os líderes e membros das comunidades presentes.
“Os maiores detentores de conhecimento sobre as áreas de risco são as pessoas que vivem nelas. A opinião dos moradores das comunidades é, portanto, fundamental ao definir os indicadores de resiliência urbana, uma vez que essas pessoas são as primeiras afetadas pelos desastres, e são as primeiras a ter que encontrar soluções para eles”, destacou Katerina.
Katerina explica dinâmica da oficina aos participantes. (Foto: Sergio Trentini / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Após, explicou aos presentes como cada tópico visa entender as particularidades da comunidade e quais ações devem ser tomadas como prioritárias para o programa de resiliência. Os indicadores, também elaborados pela Analista de Pesquisa do WRI Brasil, Katerina Elias Trostmann, são de ordem comunitária como, por exemplo, coesão social e extensão institucional; assim como há indicadores individuais como percepção de risco, preparação, conhecimento e competências, comunicação e economia.
Durante a Oficina, os participantes foram divididos em pequenos grupos relacionados a cada um dos indicadores. A partir da discussão conjunta estabeleceram prioridades e sugestões para o resultado final. Além de Katerina, também auxiliaram na condução das atividades: a Gerente de Resiliência do Centro de Operações (COR), Luciana Nery; Marcio Motta, Chefe da Defesa Civil do Rio de Janeiro, assim como Pedro Miranda e Pedro Ribeiro, integrantes do projeto Rio Resiliente.
Para Motta, chefe da Defesa Civil, “essa atividade é mais um passo para o projeto de resiliência. A partir dessa dinâmica podemos avaliar a nós mesmos, assim podemos perceber onde podemos colaborar mais. Esse é um momento para crescermos e cada vez mais demonstrar a força desse trabalho colaborativo e organizado”.
Chefe da Defesa Civil do Rio de Janeiro, Marcio Motta. (Foto: Sergio Trentini / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Contemplando etapas
A coordenação do Rio Resiliente é feita a partir do Centro de Operações Rio, que opera 24 horas por dia. A partir do COR é feito o monitoramento de chuvas, trânsito e riscos de incêndio. O contato estabelecido entre COR, Defesa Civil e agentes da comunidade envolve ativamente as comunidades a se engajarem de forma proativa para lidar com os problemas.
No Rio, as principais ameaças mapeadas são chuvas e ventos fortes; ondas e ilhas de calor; elevação do nível máximo do mar; epidemia local como a dengue; seca prolongada; saturação da infraestrutura viária; aglomerações de pessoas em grandes eventos; e ações criminosas.
Neide Márcia da Silva, Presidente da Associação de amigos e moradores do Morro do Andaraí, lembra que muito está sendo feito para que as comunidades se tornem mais resilientes e possam estar preparadas para os problemas de toda ordem.
“Resiliência é um assunto que devemos tratar e entender, pois vivemos isso na comunidade diariamente. Muitos já passaram por situações de perder a moradia, e muitos ainda moram em áreas de risco. Então, precisamos, além do nosso contato com a Defesa Civil, receber essas informações sobre resiliência e contribuir com informações, o que nos foi proporcionado hoje”, pontuou a líder do Andaraí.
Prioridades foram definidas pelos líderes das comunidades. (Foto: Sergio Trentini / WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Também estiveram presentes, entre outros bairros, os moradores da Associação do Parque João Paulo II, da Associação Boca do Mato, do Borel, do Morro do encontro, Morro dos Macacos, Bairro Santa Terezinha e Associação do Jamelão. Com a oficina, as comunidades cariocas receberam mais ferramentas para lidar com os momentos de crise e de risco à vida.
100 Cidades Resilientes
Em 2013, o Rio de Janeiro entrou para a lista das 32 primeiras cidades selecionadas para a rede "100 Cidades Resilientes", da Fundação Rockefeller. Com o projeto, o Rio ganhou suporte técnico para implantar a competência da resiliência no município, além de ter a possibilidade de trocar experiências com outras cidades, como Medelín (Colômbia), Melbourne (Austrália) e Nova Orleans (EUA).
O projeto forma uma rede global de cidades resilientes para compartilhar boas práticas e informações, para que elas superem desafios urbanos como as áreas de risco ou irregulares, vulneráveis às chuvas, enchentes e deslizamentos. O objetivo é tornar as cidades mais bem preparadas para resistir a eventos extremos, sejam naturais ou causados pelo homem, e aptas a se recuperar rapidamente, saindo mais fortes do que antes.
Junto com o Rio, a outra cidade brasileira da rede é Porto Alegre (RS).