Começa a fase de obras do Projeto Junção, em Rio Grande
“Pisem forte nessa terra porque agora ela é de vocês”. A frase do técnico social Cléber Nascimento marcou o ato de entrega dos contratos da fase 2 do Projeto Junção, em Rio Grande, que agora entra na etapa de obras. Parte do Programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) na modalidade Entidades, o empreendimento beneficiará 1.287 famílias, com renda de até R$ 1.600, que passarão a morar em uma área central da cidade.
A área fazia parte do antigo loteamento Junção e foi cedida pela União ao Município de Rio Grande, que a instituiu como área de interesse social, evitando a especulação imobiliária no local. A primeira etapa do processo durou cerca de dois anos e meio, desde a seleção das famílias cadastradas até a aprovação do projeto e suas etapas de execução.
O Projeto Junção foi indicado pela Caixa Econômica Federal a receber alguns dos conceitos do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS). Desde 2014, o WRI Brasil Cidades Sustentáveis atua junto à cidade com apresentações sobre as diretrizes e reuniões de alinhamento estratégico, para aumentar ainda mais a qualidade de vida dos beneficiários. "Este projeto foi o primeiro no qual aplicamos diretamente os conceitos do DOTS, fazendo com que ele fosse aprimorado. Essas modificações foram importantes porque criaram uma condição muito diferencial para a qualidade de vida. Criamos um centro de bairro, conseguimos a valorização do transporte não-motorizado com as ciclovias e a qualificação dos passeios, inserimos muitos pontos de segurança viária e reduzimos o conflito entre veículos e pedestres na via principal. Também conseguimos retirar as cercas das quadras, dando permeabilidade para o local. Para nós, foi muito importante podermos ter articulado os diferentes agentes envolvidos no processo. Todos contribuíram para que o Projeto Junção atingisse este grau de qualidade que vemos agora", explicou Nívea Oppermann, Diretora de Desenvolvimento Urbano do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
Gilmar Ávila, Nívea Oppermann, Joaquim Goulart, Daniel Cougo Cardoso e Jorge Garcia, presidente da Uniperfil (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Na tarde de sábado (20), aconteceu a entrega oficial dos contratos para o início das obras de 157 casas e mais de mil apartamentos que ocuparão a área. A modalidade Entidades do MCMV tem como objetivo tornar acessível a moradia para famílias organizadas por meio de cooperativas habitacionais. Coopernova, Cooperarroio, Cootrahab, Cooperlar e Uniperfil são as cinco entidades envolvidas no Projeto Junção, com grande expectativa para o que vem pela frente. “Foram dois anos e meio de muito debate e conversa. Temos um projeto diferencial, com um condomínio aberto, sem muros, com qualidade na estrutura e nos passeios públicos, que será um ambiente agradável para os moradores. Nosso desafio agora é executar o que pensamos. É um passo enorme para as famílias, mas a expectativa é muito positiva. Foi um processo de colaboração mesmo. O conhecimento e a experiência do WRI ampliaram muito a ideia de convivência social nesse espaço”, disse Joaquim Goulart, presidente da Coopernova e representante das entidades.
O secretário adjunto de Coordenação e Planejamento do município, Daniel Cougo Cardoso, também lembrou que a jornada foi grande, mas que trabalhar em parceria foi ideal para o formato encontrado. “Esperamos que se torne para a população não apenas um lugar para morar, mas um lugar para viver. Não por outra razão a área se chama Junção, é o centro geográfico do município. E agora será servido de infraestrutura e mobilidade”, ressaltou.
“Esse é um projeto que nós não quisemos fazer entendendo apenas a questão das casas. Teve um olhar além das paredes, para enxergar as pessoas”, comentou o secretário de Habitação, Gilmar Ávila. Para ele, há um conjunto de questões pensadas, como convivência e capacitação das famílias beneficiárias, a partir de oficinas e capacitações. Além disso, devem ser gerados cerca de 900 empregos para a construção do projeto.
Os contratos foram entregues por representantes da Caixa, que atua como agente operador responsável pelo repasse dos recursos do Orçamento Geral da União (OGU) depositados no Fundo de Desenvolvimento Social (FDS) e utilizados como financiamento para os beneficiários. A instituição também atua como agente financeiro que, através das Superintendências Regionais e Gerências de Habitação (GIHAB), analisa as propostas, contrata e acompanha a execução de projetos e obras do programa. Para a Superintendente de negócios de Habitação Extremo Sul, Cristiane Nunes da Cunha, o projeto é pioneiro no Sul do país. “O início das obras é um marco importante para a concretização do sonho da casa própria das famílias. Para aquelas que já assinaram os seus termos de adesão, essa conquista é um resgate da dignidade e uma afirmação da cidadania”, afirma a gestora.
Segundo a assessoria da Caixa, o modelo Entidades do MCMV estimula o cooperativismo e a participação da população como protagonista na solução dos seus problemas habitacionais. Nesse sentido, o projeto é um exemplo dos resultados atingidos pela união de diversas entidades, com o apoio do Poder Público Municipal.
A percepção é de que o Projeto Junção também deve servir de inspiração para outros empreendimentos do país. “A parceria com o WRI foi um grande diferencial no processo urbanístico, principalmente na mobilidade, que vai influenciar a qualidade de vida dessas pessoas. As famílias que não tem condições de acessar os outros empreendimentos imobiliários agora vão ter uma vida melhor”, complementou Ávila.
Mudança de vida
Um dos intuitos do DOTS é que as ocupações territoriais passem do modelo 3D (distante, disperso e desconectado) para o 3C (conectado, compacto e coordenado). Com o Projeto Junção, muda-se a perspectiva de quem pode habitar a área nobre da cidade. “O objetivo é a garantia da moradia no sentido absoluto, não só com espaço, mas com infraestrutura ao redor. Proporcionar qualidade de vida. Os beneficiários vão poder sair do aluguel ou de situações de risco e mudar para um imóvel próprio. Essas famílias devem estar rindo à toa”, comentou Lisângela Caurio Lobato, professora e dirigente do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, que participa do processo desde o princípio.
O casal Jonathan Barbosa e Dienifer Tavares (foto à esquerda) entende essa necessidade. Juntos há nove anos, estão motivados em sair do local onde moram de favor para ter um imóvel em seu nome. A expectativa aumenta quando pensam nos benefícios para a filha Micaela, de quatro anos. “Esse empreendimento vem para suprir uma necessidade que todas as cidades têm em habitação. Rio Grande tem um déficit muito grande”, comentou Barbosa.
À espera de seu apartamento, Dienifer acredita que a mudança será ainda mais positiva na vida da pequena. “É importante ter um colégio mais próximo, para não ficar trocando de tempos em tempos, sem muita opção. Aqui é perto de tudo e ela vai poder ficar na mesma escola por um bom tempo”.
A participação dos beneficiários também é um ponto muito importante no processo. Nessa nova etapa, começa a atuação da Comissão de Acompanhamento de Obra (CAO), formada por representantes dos futuros moradores. Um exemplo é a costureira Márcia Costa Terra (à direita), que se voluntariou para a função e participa de todas as assembleias convocadas. Em 2009, foi para a fila de cadastros no MCMV com um colchonete em um dia de chuva e, desde então, seguia esperando que se enquadrasse em algum projeto. Há pouco mais de um ano, mora na garagem da irmã.
“Acredito que tudo isso vai elevar a nossa autoestima e melhorar nossa qualidade de vida. Vamos fazer parte de um projeto. É um privilégio. Estamos fazendo história aqui. É uma forma de mostrar que, com vontade, nós conseguimos fazer”, disse a futura moradora, que também é estudante de Direito.
O prazo para a execução da obra é de 24 meses. Nesse meio tempo, as famílias participarão das reuniões entre a CAO e a Comissão de Representante do Empreendimento (CRE).
(Fotos: Mariana Gil, WRI Brasil Cidades Sustentáveis)