Cidades desenvolvem e aprimoram seus projetos de BRT por uma mobilidade mais sustentável
O sistema BRT está presente em nove cidades brasileiras. Segundo o BRTData, são 858 quilômetros de sistemas de prioridade ao ônibus e BRT nas ruas e avenidas do país. A priorização de espaços para o transporte coletivo ainda pode crescer muito no Brasil e os atuais projetos em andamento comprovam isso. Para compartilhar conhecimentos sobre o assunto, comitivas das cidades de Curitiba e Salvador e das regiões metropolitanas de Florianópolis e Recife foram até Belo Horizonte para uma visita técnica ao Centro de Operações da Prefeitura (COP).
O Move, sistema da capital mineira, foi inaugurado em 2014 e, hoje, possui 23,1 quilômetros de extensão dos corredores. Segundo pesquisa realizada após um ano da implementação, pelo menos 25 mil pessoas trocaram os carros para usar o Move em Belo Horizonte. Atualmente, a demanda diária é de mais de 500 mil passageiros. No COP é realizado o controle e a fiscalização do sistema BRT e dos corredores de ônibus pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS). Por meio de 97 câmeras de TV, informações sobre acidentes, veículos com problemas mecânicos, obstruções ou retenções na via e diversos outros problemas são detectados e transmitidos às empresas de ônibus. O COP, instalado na sede da BHTRANS, é um centro estratégico de tomadas de decisão que procura garantir que toda a cidade funcione bem.
O COP centraliza o controle de 80% das 950 interseções semaforizadas de Belo Horizonte. (Foto: Reinaldo Germano/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Cada cidade participante da visita tem cenários e perspectivas diferentes de implantação dos seus sistemas de prioridade ao ônibus. Curitiba, o município berço do sistema BRT, conta hoje com 74 km de extensão de sistemas prioritários de ônibus. “Ser referência em um determinado projeto aumenta a credibilidade em relação às propostas futuras. As inovações de transporte público desenvolvidas por Curitiba são bem aceitas junto aos órgãos internacionais de financiamento, em razão das referências do passado. Assim, as contínuas inovações mantêm a cidade em destaque, facilitando os trâmites de aprovação dos futuros projetos”, destaca José Valsiomar Zanellato, da diretoria da empresa Transporte da Urbanização de Curitiba (URBS).
Além dos corredores já implantados, mais 11,5 km estão em obras. Os planos futuros da cidade englobam a região metropolitana no sistema para melhorar o tempo de deslocamento dos usuários e ainda reduzir o número de ônibus metropolitanos na região central de Curitiba. A Rede Integrada de Transporte Coletivo (RIT) permite que o usuário utilize mais de uma linha de ônibus com o pagamento de apenas uma tarifa.
Fator que irá influenciar o planejamento do transporte na capital paranaense é a nova Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo, atualmente em fase de conclusão. O instrumento busca controlar o crescimento urbano, protege áreas inadequadas à ocupação e evita o espraiamento. Curitiba se caracteriza pelos seus eixos estruturantes e quer reforçar esse planejamento que beneficia o sistema de transporte coletivo e a hierarquização do sistema viário.
“A revisão do Plano Diretor de Curitiba, de 2016, estabelece diretrizes para a implantação de novos eixos de transporte na cidade e reforça a prioridade do transporte público sobre o transporte individual”, explica Valsiomar. “O Plano Diretor integra um mapa do transporte público, com a demarcação dos novos eixos de transporte. A nova legislação de uso e ocupação do solo estabelecerá os parâmetros de adensamento e uso tendo em vista a função de eixo de transporte da via em questão”, completa.
A expansão da Linha Verde permitirá também a criação de novas centralidades, conceito que cria centros de bairros completos e que evitam deslocamentos desnecessários para o resto do município. Recentemente, a prefeitura recebeu propostas de projetos de redes de transporte não poluentes, como VLT, VLP e BRT 2.0 que, de acordo com Valsiomar, ainda estão sendo analisadas: "Quanto à tecnologia, foram propostos veículos elétricos (alimentados por catenária, uma fiação aérea) e veículos híbridos, uma tendência, tendo em vista a preocupação com o meio ambiente. As propostas estão sendo estudadas em conjunto com a viabilidade financeira".
Estação de BRT em Curitiba. (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Recife também já possui BRT. Inaugurou sua primeira linha em 2014, o Corredor Norte-Sul, que hoje possui uma extensão de 33 km. O corredor Leste/Oeste conta com 12 km e o Ramal Cidade da Copa, 5,8 km. Além da capital, os corredores servem diversos outros municípios da região metropolitana. Os projetos dos três corredores da cidade de Recife são parte das obras de infraestrutura de mobilidade urbana realizadas em razão da Copa do Mundo de 2014.
“O sistema BRT em Recife é gerenciado pelo Governo do Estado, pois ele está no âmbito metropolitano. O Sistema BRT ainda não foi concluído em sua totalidade, uma vez que ainda resta a conclusão de terminais integrados ao longo do Corredor leste/oeste, operado por BRT”, explica Taciana Maria Ferreira, presidente da Companhia de Trânsito e Transportes Urbanos de Recife (CTTU). Segundo ela, Recife busca financiamento para a ampliação do sistema Via Livre, como é chamado o BRT da cidade. “A visita técnica foi uma oportunidade muito boa para conhecer os erros e acertos da implementação do sistema em BH e, assim, fazer uma reflexão sobre a funcionalidade do implantado na Região Metropolitana do Recife que percebemos ter muitas similaridades".
Uma alternativa encontrada para priorizar a circulação de ônibus é a Faixa Azul, que funciona de segunda a sexta-feira, das 6h às 22h. São 32 quilômetros de Faixas Azuis implantadas desde 2013. De acordo com informações da prefeitura, o ganho na velocidade média dos ônibus chegou a 56%, passando de 14,8 km/h para 23,1 km/h, no horário de pico das 6h às 9h.
BRTs para 2017
Salvador ainda não possui um sistema BRT, mas está em processo de ajustes para liberar a licitação. Hoje, 44,2% das viagens feitas em Salvador diariamente são pelo transporte coletivo. De acordo com o BRTData, atualmente são 8 km de corredores de ônibus, pouco para uma cidade de quase 3 milhões de habitantes. O primeiro corredor BRT da cidade, Lapa-Iguatemi, deve ter 8,6 km de extensão.
Florianópolis busca melhorias para a conexão entre a região metropolitana através das indicações do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (PLAMUS). Como proposta de solução aos problemas de mobilidade urbana da Grande Florianópolis, o PLAMUS recomenda a reestruturação do transporte coletivo integrado metropolitano, com a implantação de um sistema troncal nos principais eixos de transporte da região, conectado a uma rede alimentadora, construído e operado com uma visão metropolitana e com integração física e tarifária. Segundo as análises feitas na elaboração do PLAMUS, o BRT é a solução mais adequada às necessidades da região.
De acordo com Guilherme Medeiros, coordenador técnico da Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis (Suderf), atualmente está em curso o processo de contratação de Parceria Público-Privada, na modalidade Concessão Administrativa, para Implantação, operação, conservação e manutenção da Infraestrutura do Sistema BRT na Região Metropolitana de Florianópolis.
No final de novembro, a cidade concluiu a fase de consulta pública sobre o projeto. "Todas as contribuições da audiência pública serão analisadas pela equipe técnica, e adequadas aos projetos aquelas consideradas pertinentes, visando o melhoramento das condições do edital de parcerias público-privadas", afirma Aloisio Pereira da Silva, engenheiro da Suderf. Finalizado, o plano deve ser encaminhado ao Tribunal de Contas do Estado (TCE).
A meta do projeto é a construção de 57,5 km de corredores de BRT, um número que Aloísio reconhece como ambicioso: “A seleção da tecnologia do BRT é uma decisão bastante sensata, tendo em vista o melhor benefício em função do custo e tempo de implantação, comparando com as outras tecnologias de média capacidade disponíveis. No entanto, a meta de implantar 57,5 km de corredores de BRT em cinco anos é bastante ambiciosa”.
O investimento total estimado é de R$ 1,1 bilhão em obras, e aproximadamente R$ 300 milhões em desapropriações. Segundo Aloísio, o projeto pretende tornar mais sustentável a operação da frota e com melhores condições tarifárias. "Espera-se que o investimento na infraestrutura permita uma melhoria nas condições de operação sob a ótica do usuário (menor tempo de viagem, maior frequência e maior regularidade), e também uma redução dos custos operacionais da frota", afirma.
Para Aloísio, a visita técnica em Belo Horizonte foi muito interessante: "como a equipe de Santa Catarina é recente, é salutar e vital esse contato com outros entes, sempre buscando a qualificação dos técnicos, possibilitando replicar as experiências que estão dando certo e adequar o que já apresentou problemas em outros estados ou municípios".