Ciclistas de Fortaleza propõem soluções para a infraestrutura da cidade
No processo de planejamento da cidade, o ideal é que sejam ouvidas as pessoas que vivem nela todos os dias. Esse foi o foco do último dia do workshop “Estratégias de Incentivo ao Ciclismo Urbano em Fortaleza”, realizado pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis com o apoio da Iniciativa Global em Segurança Viária da Bloomberg Philanthropies, que reuniu ciclistas para procurar soluções para uma das conexões de Fortaleza.
A capital do Ceará pretende ser “a cidade mais ciclável do Brasil” e tem promovido, a partir do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito (PAITT), diversas ações e intervenções para melhorar sua infraestrutura cicloviária. No entanto, alguns desafios ainda são enfrentados para integrar regiões da cidade e promover o transporte ativo.
Entre os problemas na infraestrutura indicados pelos ciclistas, estão iluminação, conectividade da rede, segregação do tráfego, velocidades altas e obstáculos na pista. As soluções apontadas passam por arborização e sombreamento, fiscalização, controle de velocidade e a criação de novas ciclorotas.
“O mais importante é saber o que a sociedade quer. Não falta dinheiro, o que faltam são projetos com apoio. Não precisamos pensar se o projeto é barato, precisamos pensar em quantas pessoas se beneficiam da infraestrutura”, disse o holandês Warner Vonk, da Ifluxo, empresa de consultoria e engenharia de mobilidade urbana.
Confira os depoimentos de alguns dos participantes do workshop:
Ximena León, arquiteta natural da Bolívia, mestranda em Engenharia de Transportes na Universidade Federal do Ceará (UFC)
"Quando eu cheguei em Fortaleza, eu nem sabia como era andar de bicicleta. Andar na rua de bicicleta, para mim, não era uma opção de transporte. Então, usava o ônibus para ir até a universidade, pois não tenho carro. Comecei a andar de bicicleta usando o sistema compartilhado da cidade e vi que a estrutura foi melhorando, com novas opções de rotas e ciclofaixas. Agora, moro muito mais distante da universidade, tenho um percurso de 11 quilômetros e ainda faço esse caminho ao menos três vezes na semana de bicicleta. São uns 45 minutos de viagem, mas eu acho muito legal porque consigo chegar mais cedo do que antes e me sinto muito mais segura de andar de bicicleta agora.
Ainda falta muito da educação das pessoas e dos motoristas. Também poderia ter mais arborização, para o conforto, e iluminação, para a segurança. Mas uma das coisas que acho muito legal é que, quando as pessoas começam a andar nas ruas, também dá segurança para que outras pessoas comecem a andar. Você tem mais atividades na rua. Implantar infraestrutura é ajudar a cidade a arrumar essas coisas."
Cláudio Henrique Santos, arquiteto e servidor público federal
"Acho muito importante essa oportunidade de permitir que os ciclistas conversem com os fazedores de políticas públicas. É muito valioso podermos mostrar nossos desafios, necessidades e as oportunidades da cidade. A participação do ciclista no desenvolvimento de ideias também é importante porque a gente vive a realidade. Às vezes, o ciclista de um bairro está em uma realidade que só é percebida por ele no dia a dia.
Vemos que o ciclismo em Fortaleza está crescendo, temos ciclistas de todas as classes, todas as idades, muitas mulheres. Eu sei que não é o objetivo geral que todo mundo seja ciclista. Acho que devemos ter a contribuição dos modais. A integração entre bicicleta e transporte coletivo é muito importante nesse sentido.
Mas o principal desafio que temos ainda são as hostilidades que vivemos no dia a dia. Precisamos descobrir como conversar com os condutores e mostrar para eles que nós, como condutores - que eu também sou, perdemos muito tempo durante o percurso parado. Então, durante esse intervalo nós podemos ser gentis. Não é perda de tempo ser gentil com o pedestre, com o ciclista e com outros condutores."
Gustavo Pinheiro, engenheiro do Plano de Ações Imediatas de Transporte e Trânsito de Fortaleza (PAITT)
"É muito importante que a gente compartilhe esse momento de expôr os projetos cicloviários e os técnicos possam se apropriar dos problemas e das soluções que nós viemos tomando na cidade. Assim, podemos melhorar as conexões.
A gente acredita que as mudanças têm que partir de todo mundo. O poder público tem um papel muito importante, se não o principal, mas se a sociedade e as empresas não estiverem juntos nessa mudança, talvez não se consiga a efetividade necessária."