Caminhos para combater as mudanças climáticas
Mudanças requerem ações. Quebrar os paradigmas e transformar a maneira como as cidades são construídas e como vivemos nossas vidas dentro delas também. No encerramento da II Jornada sobre Cidades e Mudanças Climáticas, especialistas divididos em seis áreas temáticas protagonizaram um amplo debate sobre a implementação de ações setoriais que podem ajudar a tornar as cidades mais sustentáveis e preparadas para lidar com a crise climática. O evento foi realizado pelo ICLEI, com o apoio do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
Mobilidade, planejamento urbano, saneamento, saúde, energia e adaptação baseada em ecossistemas: os seis setores foram os eixos temáticos da sessão que apresentou ações atualmente em curso em diferentes cidades e que estão ajudando a torná-las mais sustentáveis. Luis Antonio Lindau, Diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, moderou o debate, que também contou com a participação de Holger Dalkmann, Diretor de Estratégia e Política Global do WRI Ross Center for Sustainable Cities.
Luis Antonio Lindau: cidades precisam qualificar a mobilidade sustentável (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
A discussão sobre mobilidade começou com Ramon Victor Cesar, Presidente da BHTRANS, que apresentou as principais ações de Belo Horizonte para qualificar o ambiente urbano e promover a sustentabilidade: “Nas últimas décadas, vimos o automóvel passar a ocupar uma posição de destaque na divisão modal das cidades. Em consequência, as emissões também aumentaram. Precisamos e queremos reverter essa situação”. A meta da capital mineira, como contou Ramon, é reduzir as emissões em 20% até 2030, trabalhando em três frentes: limitar ou reduzir a velocidade dos deslocamentos, modificar a divisão modal em prol dos modos mais sustentáveis e aumentar a eficiência energética no setor de transportes.
Belo Horizonte trabalhou em parceria com a Future Cities Catapult para identificar tecnologias e soluções inovadoras para os principais desafios urbanos da cidade, entre os quais a segurança viária e a qualidade do transporte coletivo. “Na Future Cities Catapult, trabalhamos para transformar as cidades em lugares melhores para as pessoas viverem. Para isso, apostamos na inovação como instrumento de sustentabilidade: por meio de soluções inovadores, podemos tornar as cidades mais sustentáveis”, apontou Guilherme Johnston, Gerente de Projetos Internacionais e Parcerias da organização britânica. Na visão do especialista, os pontos de encontro entre inovação e sustentabilidade são as áreas onde mudanças concretas e significativas podem ser geradas.
O investimento em mobilidade sustentável mostra-se particularmente necessário frente aos números apresentados por Françoise Méteyer-Zeldine (foto), Conselheira para o Desenvolvimento Sustentável da Embaixada da França no Brasil: o custo da mobilidade não sustentável no país é de R$ 850 bilhões de por ano. Resolver o problema não é um processo simples, mas, segundo Françoise, um bom caminho é o planejamento integrado de transporte e uso do solo, pois essas são ferramentas que tornam o transporte e as próprias cidades mais inclusivos. “As cidades são diferentes umas das outras; logo, precisam de diretrizes próprias, conforme suas necessidades. Mas precisamos entender, acima de tudo, a diferença entre cidades sustentáveis e as que não o são: o investimento na própria sustentabilidade”, afirmou.
(Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Planejamento urbano e integração
O planejamento integrado é a chave do sucesso das cidades brasileiras que já começaram a trilhar o caminho do desenvolvimento sustentável. Florianópolis, no sul do Brasil, empreendeu um dos casos mais bem-sucedidos da articulação de regiões metropolitanas para resolver problemas urbanos e qualificar a prestação de serviços.
O PLAMUS – Plano de Mobilidade Sustentável da Grande Florianópolis mapeou as necessidades de mobilidade dos 13 municípios da RM por meio de oficinas e pesquisas. Guilherme Medeiros, Coordenador Técnico da Superintendência de Desenvolvimento da Região Metropolitana da Grande Florianópolis, participou do debate e falou sobre a diretriz fundamental seguida pelo PLAMUS: levar mais integração, sustentabilidade e qualidade de vida à população dessas cidades. “Por estar em uma ilha, é fundamental que Florianópolis estabeleça relações com os municípios vizinhos. Ações planejadas de forma integrada e postas em prática também de forma integrada são o eixo central do PLAMUS. Infelizmente, nenhuma região metropolitana no Brasil já atingiu o planejamento no estado da arte, mas nós estamos trabalhando para isso”, afirmou.
O WRI Brasil Cidades Sustentáveis apoiou a capital catarinense no desenvolvimento do plano, trabalhando conceitos de participação popular, mobilidade sustentável e desenvolvimento urbano – ponto que Holger Dalkmann (foto) destacou como base para a sustentabilidade urbana: “Cidades compactas, coordenadas e conectadas: esse deve ser o horizonte e o objetivo do trabalho. Mas construir cidades assim requer, em primeiro lugar, a densidade certa e a oferta exata de serviços, para que, assim, as cidades possam se desenvolver de forma sustentável”. O especialista ressaltou ainda o caráter fundamental do planejamento integrado: “Nesses dois dias, discutimos planejamento climático, planejamento urbano, planejamento financeiro – precisamos pensar esses processos juntos, de forma integrada”.
Oportunidades para construir cidades melhores
A sessão de encerramento de II Jornada sobre Cidades e Mudanças Climáticas abrangeu ainda os setores de saneamento, água, energia e adaptação baseada em ecossistemas. Palestrantes nacionais e internacionais apresentaram projetos e soluções aplicados em diferentes partes do mundo com resultados positivos para a vida nas áreas urbanas.
Divididos em mesas de discussão temáticas, público e palestrantes debateram exemplos de soluções inovadoras e como ampliar essas iniciativas. Na área de mobilidade, Lindau apresentou o conceito avoid-shift-improve (evitar-mudar-melhorar), e a conversa girou em torno de como melhorar e garantir da manutenção dos sistemas de transporte coletivo. Na mesa de planejamento urbano, foram citados casos de sucesso de planos diretores e como podem levar à construção de cidades mais compactas. Em adaptação, o foco da discussão foram as ilhas de calor e medidas que as cidades podem tomar visando à resiliência. Conscientização da população e tratamento de áreas de risco foram os assuntos em saúde e saneamento. Por fim, o grupo de energia debateu sobre como o Brasil pode explorar fontes de energia renovável e investir na geração de energia eólica e solar através de contratos de desempenho.
Depois de dois dias de discussões, a II Jornada chega ao fim. Sob a luz das discussões da COP 21 e do Acordo de Paris, gestores municipais e profissionais de diversas áreas relacionadas ao setor climático analisaram experiências e apontaram caminhos pelos quais as cidades brasileiras podem seguir para avançar no combate às mudanças climáticas. O desafio é grande, mas as oportunidades para superá-lo existem – basta abraçá-las.