Tecnologia e inovação a favor da mobilidade urbana
Quando a cidade de São Paulo abriu seus dados de mobilidade urbana através do MobiLab, numa iniciativa pioneira na América Latina, prontamente surgiram aplicativos para smartphone como o Moovit e o Waze, dentre muitos outros que fornecem informação aos usuários do transporte coletivo. O exemplo foi trazido durante o painel “O Papel da Tecnologia para Melhorar a Mobilidade Urbana”, que ocorreu na tarde de hoje para compartilhar boas práticas, desafios e novas ideias de um time de painelistas formado por Ciro Biderman, Chefe de Gabinete da SPTrans, Peter Valk, Presidente da TMS – Transportation Management Services, Ronald Boenau, Gerente Sênior do Departamento de Transportes do Governo Federal dos Estados Unidos e Nina Lualdi, Diretora Sênior de Estratégia e Planejamento da Cisco Brasil, como moderadora.
Nina abriu o painel abordando os desafios de uma realidade viária saturada de carros, vias e pontes para automóveis. Se por um lado não há mais espaço para construir, argumentou, por outro é preciso pensar sobre como a tecnologia poderá conectar pessoas às redes de transporte e facilitar seu acesso ao transporte coletivo. “Com foco nas pessoas, em como melhorar a vida delas. Essa é sua verdadeira utilidade da tecnologia”, defendeu.
Dados abertos em São Paulo
“Todo mundo quer tecnologia”, disse Ciro Biderman, uma premissa para o surgimento do MobiLab, laboratório de dados abertos de mobilidade urbana que surgiu no intuito de modificar o modo como o poder público lida com inovação e tecnologia. “No método tradicional, o governo pesquisa o mercado, faz uma licitação e contrata um serviço que será demorado e caro”, disse. “Ao mesmo tempo, existem startups se apropriando de informação online para inovar e desenvolver soluções rápidas, baratas, flexíveis. É uma nova maneira de pensar a qual nós queremos explorar”.
Câmeras de rua e sistemas GPS em ônibus e táxis geram, juntos, quase 50 milhões de dados por dia. Diante de tamanha abundância de informação, aliada aos equipamentos e técnicos do MobiLab, grupos multidisciplinares e startups que lá serão incubadas têm subsídio para promover inovações, soluções para velhos problemas. Exemplos já em prática são o Moovit e o Waze, aplicativos citados no início da matéria, que planejam viagens, informam localização e tempo estimado de chegada do transporte. Tudo graças à política open data da capital paulista.
“Em geral, o setor público brasileiro não inova, apenas licita. É a maneira de contratar o pior serviço pelo melhor preço. Queremos fugir disso, sair da caixa e chegar num modelo diferente que vai gerar economia ao governo. Comprar tecnologia para inovar, e não comprar por comprar”, finalizou.
Inovação dentro das organizações
Você tem uma vaga de estacionamento bem localizada no prédio onde trabalha. Embora haja congestionamento no caminho, ter esta conveniência é insubstituível. Para Peter Valk, especialista em gerenciamento de demanda de viagens (GDV), esta crença é uma armadilha na qual muitas organizações caem por desconhecerem outras pções mais vantajosas para elas e para funcionários. “Os residentes urbanos sentem os efeitos do congestionamento. Além da qualidade de vida, são uma ameaça ao desenvolvimento econômico e ao meio ambiente”, frisou.
Para ele, as organizações têm um grande papel no modo como os funcionários vão ao trabalho. “Trabalhei com a Natura, em Cajamar, e desenvolvi um programa de dez linhas de ônibus corporativos, que foram adotados pela maioria dos funcionários”. Ao oferecer opções aos colaboradores, num conjunto de medidas de desestímulo ao transporte individual, Peter defende o aumento na produtividade do funcionário e uma melhora para toda a comunidade do entorno das corporações. São exemplos de alternativas as caronas, os ônibus fretados, o vale transporte, as bicicletas – sempre lembrando que há que estimular colaboradores a abraçarem uma nova forma de se deslocar, através de programas de benefícios.
“O propósito da GDM é influenciar mudanças, a fim de melhorar a mobilidade urbana, a qualidade do ar, e fazer com que o sistema de transportes funcione melhor para quem vive ou trabalha em determinada região”, explicou. Um exemplo desta visão vem do Hospital Infantil de Seattle, nos Estados Unidos, que propôs o aumento de 250 para 650 leitos na área onde antes havia um estacionamento. “A condição foi que o fluxo de carros indo ao hospital não aumentasse proporcionalmente”, contou.
Experiência americana com ITS
O Departamento de Transportes dos Estados Unidos (US DOT) desenvolveu um sistema chamado ITS – Intelligent Transport System, tecnologia incorporada aos modais de superfície por todo o país que facilita a interação e conexão entre os veículos no intuito de promover o transporte integrado. No painel sobre tecnologia, o gerente sênior do US DOT, Ronald Boenau, deliberou sobre a experiência americana e apontou desafios gerais em utilizar uma tecnologia inteligente nos sistemas de transportes.
“Ao longo do seminário, foram abordados assuntos que envolvem a integração de instituições e tecnologias para a melhoria do transporte, e é justamente sobre isso que os sistemas de transporte inteligentes – ITS – tratam”, explicou. Através da conectividade veículo-veículo e veículo-infraestrutura por uma rede wireless altamente tecnológica, uma das funcionalidades do ITS é a segurança e prevenção de colisões.
Outra aplicação da ITS refere-se à comunicação entre órgãos públicos. “Há alguns anos, um avião caiu no rio que separa os estados de Distrito de Colúmbia e Virgínia, entre três cidades. Diante da situação não sabíamos a qual delas responder, o que comprovou que não tínhamos dados que se comunicavam”, relembrou o especialista, emendando que com a tecnologia atual, este tipo de problema já não acontece. Diante disso, Ronald pontua que o grande desafio não está necessariamente na obtenção de dados, mas sim como utilizá-los. “O problema não é com a tecnologia, mas a capacidade em utilizá-la, bem como as relações interinstitucionais que prejudicam a comunicação”.
Acesse as apresentações deste painel:
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Sobre o Seminário
Promovido por EMBARQ Brasil e WRI Brasil, o Seminário Mobilidade Urbana Sustentável: Práticas e Tendências acontece nos dias 2 e 3 de dezembro em São Paulo. O evento reúne especialistas
internacionais e nacionais, além de um público formado por representantes de pelo menos 40 municípios, entre prefeitos, secretários de transporte e gestores técnicos. O objetivo é capacitá-los sobre as
melhores práticas no assunto para repensar a mobilidade e o desenvolvimento das cidades brasileiras a partir da perspectiva das pessoas.
O Seminário tem apoio da ALCOA Foundation, LARCI – Iniciativa Clima América Latina, SOLUTIONS, FedEx, Embaixada Britânica, Consulado Geral dos Estados Unidos em São Paulo e Volvo.
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