Mary Jane Ortega: “Aprendi que, além de comunicar, você tem que educar. Se você comunica e educa, os efeitos são de longa duração"

(Foto: Divulgação)

Mary Jane Ortega foi tres vezes prefeita de San Fernando, uma cidade costeira situada a cerca de 270 km de Manila, capital das Filipinas. Ela acumula prêmios por suas realizações na gestão da cidade. Apesar de estar fora do gabinete oficial desde 2013, Mary Jane ainda se dedica a melhorar a gestão das cidades. É Assessora Especial da Rede Global para Cidades Mais Seguras e do ICLEI, membro do Comitê de Resiliência Sobre o Futuro dos Espaços Públicos e Secretária-Geral da CITYNET. "Meu marido me pergunta: ´por que você está envolvida em todas essas coisas?´ Você não termina sua militância quando sai do gabinete. Você continua, mesmo fora dos cargos públicos".

Em setembro, Mary Jane Ortega virá ao Brasil para a Cúpula de Prefeitos que acontece no dia 9 de setembro.

 

Quais foram as principais conquistas da sua administração?

Mary Jane Ortega - Recebi o UN-HABITAT Scroll of Honor Award por meu trabalho sobre o empoderamento das mulheres e também por defender uma estratégia de desenvolvimento para a cidade. O segundo prêmio foi o Konrad Adenauer de Mérito de Excelência em Governança. E o terceiro é um prêmio do Banco Mundial, dado pelo presidente James Wolfensohn, pela estratégia de desenvolvimento da cidade. Além disso, recebi uma doação do Fundo de Desenvolvimento Social do Japão, pelo projeto sobre realocação de pescadores de áreas de risco, para minimizar o impacto dos tufões. Mesmo estando fora do governo, por oito anos, o que começamos foi institucionalizado. Neste momento, estou trabalhando para melhorar a qualidade da educação básica. Sou mentora de não apenas uma cidade, mas de várias unidades de governo local no norte das Filipinas.

 

Quais as dificuldades de administrar uma cidade e seus problemas?

MJO - As cidades daqui são cidades de “macho”, que só olham para os homens. Sempre se pensou que apenas os homens poderiam controlar a cidade. Quando fui eleita prefeita, acharam que eu só lidaria com cultura. Então, todos se surpreenderam quando reduzimos a criminalidade, eliminamos a pesca com dinamite e acabamos com o uso de drogas pelos jovens. Assim, percebeu-se que uma mulher era tão capaz quanto um homem na administração.

 

Quais são os maiores problemas que as cidades asiáticas enfrentam?

MJO – Principalmente nas Filipinas, nos enfrentamos os impactos das mudanças climáticas. Jamais poderíamos prever quais seriam os riscos das chuvas, nós não estávamos preparados para terremotos eventuais. Nós precisamos preparar nossos cidadãos para estarem prontos e serem resilientes. Tentamos ajudar as cidades asiáticas a conseguir os meios para baixar a criminalidade e fazer com que as cidades sejam mais seguras especialmente para mulheres e populações marginalizadas. Deveríamos ter mais espaços públicos, cada cidadão deveria ter acesso a parques públicos que deveriam ser socialmente inclusivos.  Isto é um problema nas Filipinas e em algumas cidades da Ásia, em que a população é tão grande que nós não temos muitos parques verdes.  Estamos também tentando mostrar que as ruas não são apenas para os carros. Muitas cidades da Ásia são poluídas, o ar é ruim.  Eu convenci 1400 operadores a mudarem os triciclos de dois para quatro tempos e a ter uma abordagem bem holística na administração da cidade.

 

Como é possível manter a economia crescendo sem agredir o meio ambiente e a vida urbana?

MJO – Temos que ter empregos verdes. Toda vez que houver uma obra, uma construção, ela deve ser verde. Quando temos essa diretriz e as pessoas começam a investir, a economia também melhora. Por exemplo, estamos incentivando o uso de energia solar. É caro. Governos locais devem investir em energia solar porque isso possibilita uma redução do consumo de energia em até 35%.  Encorajamos investimentos em energias renováveis. Quando o dinheiro circula, a economia torna-se dinâmica.

 

Quais são as principais demandas de transporte dos filipinos?

MJO – Estamos instigando as pessoas a andarem. Se você pode andar de bicicleta, então ande de bicicleta. Se você pode usar o transporte público, então use. Existem causas básicas que nós temos para o transporte.  Uma frustração que eu tenho é que nas Filipinas nós não temos trens, nós temos um acesso muito limitado a trens. Isto é algo que nós achamos que o nosso país poderia ter.

 

O que você aprendeu como prefeita?

MJO – Você tem que aprender a comunicar, comunicar, e comunicar. Comunicação é a melhor forma de encorajar e educar pessoas. Eu também aprendi que, além da comunicar, é preciso educar. Se você comunica, você educa, e os efeitos são de longo prazo. Nós esperamos que as pessoas sejam capazes de internalizar e se apropriar da cidade, a participar da comunidade. Agora, eu sou a presidente do Conselho de Governança Multisetorial da cidade, um grande comitê de indivíduos.  Este é o meu envolvimento, pela minha cidade.

 

Quais são as suas expectativas para a Cúpula de Prefeitos e para o Congresso Internacional Cidades & Transportes?

MJO - Espero que eu possa aprender com as lições da América e que eu possa trazer estas lições para a Ásia.  E que talvez existam lições que a gente também possa compartilhar. Ficaria muito feliz em fazer isso.

 

Qual é a frase ou a ideia que você quer espalhar para o mundo?

MJO - Temos apenas um mundo, temos que cuidar dele. Podemos ter diferenças culturais, mas precisamos estar unidos para preservar o planeta. 

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